terça-feira, 31 de dezembro de 2019

AVENTURA DE MENINO


Eu era garotinho...
Fugi de casa
Com um guarda-chuva rasgado
E meias trocadas,
De cores diferentes.
Uma calça
Que não cabia em mim
E um rosto de querubim.
Fui de porta em porta
Suplicando uma esmola
Pelo amor de Deus.
Levei uma manhã inteira
Subindo e descendo ladeiras
Daquela bairro distante.
Um sorriso à toa
Mostrando os dentes a cada instante.
Esse fato não me sai da lembrança,
Eu era uma inocente criança
E não entendia o que estava fazendo...
Meus pais em polvorosa
Mandaram meu irmão mais velho
A procurar-me em cada esquina,
E eu, ingênuo, seguia minha sina
Sem saber por onde ía.
Lá pelos confins da tarde
Meu irmão me encontrava suado,
Agradecendo ao Deus amado
Por haver me encontrado.
Saliente, eu entrei em casa,
Não levei qualquer palmada
E a vizinhança toda na calçada,
Procurava compreender
O que estava acontecendo.
Coloquei o resultado da aventura
Sobre a mesa:
Era uma banana e alguns trocados.
Perguntei a meu pai muito sério:
"Foi só o que consegui,
Dá pra ajudar nas despesas?"
Apesar da forte preocupação
Com o meu sumiço repentino,
Todos se espantaram com o meu tino.
Eu tinha apenas dois anos
E nesta vida cheia de desenganos,
Provoquei sorrisos com minha aventura de menino!

DE Ivan de Oliveira Melo

POEMA ESCRITO EM 2008

domingo, 29 de dezembro de 2019

ÚLTIMOS INSTANTES



É madrugada. Meu rosto está lívido!
A boca amarga os dissabores da ilusão...
Terrível angústia me assalta e, em vão,
Busco respirar, mas é azado meu libido.

Deitado e frente ao espelho, vejo-me tonto;
Tento sorrir, porém é o choro que me afaga
E, fatigado, o corpo procura por uma adaga
Para pôr fim a este malfadado confronto.

Sinto em mim que é chegada a despedida...
Lamento profundamente o que não fiz na vida
E peço compaixão para um coração sofredor!

Parto. Talvez no espaço eu seja bem mais feliz
Já que lutei e lutei e meu regaço a terra não quis...
Morro, enfim, como quem viveu só por amor!




DE  Ivan de Oliveira Melo 

REVIRAVOLTA




Gente, eu nasci feliz!
Gritei, chorei, como todo bebê!
Logo da existência me consumi
De uma patologia infecciosa...

Chegaram até mim
Os efeitos da bactéria malsã
E um atroz sofrimento foi, aos poucos,
Dizimando minha saúde, já precária...

Meu corpo queimou,
A enfermidade lambia meus órgãos
E eu cada vez mais demente
À espera de uma cura milagrosa...

O tempo foi senhor do meu destino!
Crescia que crescia e me sentia átono
Perante uma doença maquiavélica
Que me desnutria, acintosamente.

Um dia, repentinamente, caí...
Levaram-me às pressas para um hospital
Onde me puseram numa ala de UTI.
Eram raras as chances de sobrevivência,
Mas meu coração se recusava
A deixar de pulsar
E a mente estava distante, desgovernada.

Em derredor do meu leito
Vozes discutiam sobre meu futuro:
Algumas eram a favor da eutanásia,
Outras nutriam uma breve esperança
De recuperação...

Não poderiam dar cabo de uma vida
Que, embora simbólica naquele momento,
Ainda respirava, talvez, os últimos acordes.
E uma confusão de instalou...
Quem venceria aquela batalha
Entre a vida e a morte... Quem?

Subitamente. meus dedos se mexeram,
Deram sinais de que a vida em mim não cessara.
Abri os olhos.
Encontrei forças para movimentar os braços
E, num magistral impulso,
Arranquei de mim aqueles fios companheiros
Da morte.
Noutro esforço, conseguiu sentar-me sobre o catre.
Observei em derredor.
Percebi que estavam todos estupefatos.
Sorrisos e lágrimas, concomitantemente.
Apenas indaguei:
Alguém morreu?
E aqui estou até hoje,
Cheio de saúde
E retratando esta história.
Saúde, meus amigos!



DE  Ivan de Oliveira Melo

BORRALHAS






A morte acampa lícita sobre nós
Trazendo o húmus da desventura...
A vida sublime que foi tão pura
Desterra da existência nossa voz.

Hino fúnebre tocam nossos dedos,
Anuncia-se a podridão nauseabunda
Que se espalha no éter e deslumbra
Os corvos vorazes, somos esqueletos.

É no íntimo curto espaço da cova rasa
Que os vermes saciam toda a sua tara
E nos abandonam ilícitos e abissais...

Só a cremação nos liberta desse horror
E nossas cinzas jogadas seja lá onde for
Mantêm as lembranças dos nossos sais!


DE  Ivan de Oliveira Melo


sábado, 28 de dezembro de 2019

ESCREVER




Escrevo porque o mundo existe
E, se não existisse, eu criaria um
Só para escrever o que é comum
E, também, para não ficar triste.

Escrevo porque isso é uma arte
E, se não fosse, eu a faria como tal
A fim de que o bem repelisse o mal
E, igualmente, dela me encantasse.

Escrevo porque escrever é amar
E, se não escrevesse, enlouqueceria
E a existência não teria razão de ser...

Escrevo porque viver é sempre sonhar
E, não se sonhando, não haveria magia
E na vida só haveria aflição, não prazer! 



DE  Ivan de Oliveira Melo

LUJURIA







Mi alma está en lo cio
Y camina aburrido en la lluvia...
Mi boca me parece tan sucia,
Pues sólo besa el tiempo vacio.

Dónde está el amor de mi vida?
Por las calles desiertas yo estoy solo,
Entonces no puedo parar y mis ojos
Están ciegos... Mi vida está urdida!

Por las noches lloro mucho... Decepción!
No hay quien llena el pobre corazon
Tan lleno de amor para sinceramente donar...

Nuevos días surgen y el Sol brilla,
Pero en mi vida hay las ortigas
Que rascan mi cuerpo e no puedo amar!




DE  Ivan de Oliveira Melo

ÚLTIMO DEGRAU





Não pense que só a mentira me consola,
Preciso de mais que isso... Sou exigente!
Pouco a vida oferece a esse bando de gente
Que sonha e sonha, porém apenas quer esmola!

Não imagine que a mentira me atraia...
Longe disso! Autenticidade é o meu emblema,
Contudo se vive na fantasia, na ficção e cinema
E o povo a nutrir hipocrisia e cair na gandaia!

Não reflita que esteja este mundo perdido!
A escada no fundo do poço não é para bandido,
É para quem não permita que a esperança morra...

Não existe o “salve-se quem puder”, isso é alegoria!
Matute que, de mãos dadas, uníssonos nesta agonia,
Todos vencerão as angústias e irão à desforra!



DE  Ivan de Oliveira Melo