terça-feira, 12 de março de 2013

Ritual Sustenido



Eis  duas  mãos  e  um  violão
A  tecer  notas  no  contraponto  da  madrugada
E  meus  tímpanos  em  ritmo  de  serenata
A  cirurgiarem  efeitos  inefáveis  de  saudosa  canção.

Som  em  que  a  alma  mergulha  no  deslumbramento
Que  é  sentir  o  ardor  de  um  dedilhar  de  cordas,
Melodia  que  anestesia  janelas  e  ranger  de  portas
Fazendo  bailar  o  amor  numa  conjunção  de  sentimentos.

Música  é  orvalho  que  incendeia  a  sensibilidade
E  ninho  onde  a  sensualidade  desabrocha  emoção
Numa  carreata  em  que  se  destaca  a  imagem  do  coração...

Nicho  que  incorpora  em  si  eflúvios  da  realidade,
Tempero  de  valsa  que  faz  eclodir  nos  sentidos
O  fogo  de  uma  paixão  tocado  pelo  prazer  sustenido!

sábado, 9 de março de 2013

Canção Postiça

 
O mundo é um disco de papel...
Roda, roda, roda e se transforma,
Estrelas marotas enfeitam o céu
Da pálida esperança quase morta.

Rasga-se a timidez de celofane
E de seda é o sonho que se acalenta,
Saudade é urna onde jazem nomes
Que a solidão enciumada enfrenta.

Embrulho de vaidades da vida postiça...
Em meu anzol mentira virou isca
Para capturar verdades abandonadas...

Vitrola cansada da melodia sem brilho
É a noite desnuda que ressabiado trilho
Colhendo nostalgia à beira das estradas!

sexta-feira, 8 de março de 2013

Louvor à Mulher



I Parte

Deus criou o mundo
E tudo o que nele existe,
Mas criou o homem solitário e triste
Deixando nele um vazio profundo.

Para colorir sua tela,
Fez com que o homem dormisse
E, sem que ele sentisse,
Tirou-lhe uma simples costela.

Quando o homem acordou,
Assim meio de repente,
Notou algo bem diferente
Que logo lhe produziu ardor.

Sua tristeza se dissipou
E ele agradeceu com bastante fé,
Tinha diante de si uma linda mulher
Que lhe ensinou as artimanhas do amor.

O amor de ambos foi imenso
E esqueceram séria recomendação,
A serpente maldita confundiu-lhes a emoção
E eles perderam o bom-senso.

Afastados do lugar sagrado,
Tiveram vergonha de sua nudez,
E cada um por sua vez
Entendeu a extensão do seu pecado.

II Parte
Descobriram um mundo deserto,
Vazio de tudo o que se quer,
Mas foi com a astúcia de uma mulher
Que o homem tornou-se mais esperto.

Labutaram intensamente para sobreviver
E com o amor fizeram a multiplicação,
Aprenderam a repartir o pão
Compreendendo a existência do divino Ser.

Missão sagrada foi dada à mulher :
Ser mãe dos homens na Terra,
Talento sublime que não se encerra
E que o mundo reverencia com orgulho e fé.
 
O planeta evoluiu, encheu-se de gente,
Os povos construíram suas nações,
Guerras dilaceraram sublimes corações,
Mas a mulher continuou firme e persistente.

Os homens sempre quiseram mais e mais,
Na ganância não pensam pôr um fim,
Desde o princípio que é assim,
Por isso o mundo não vive em paz.

O papel feminino sempre foi de preconceito,
Isso em todas as sociedades da História,
A mulher nunca pôde demonstrar sua glória
E sua atuação ficou restrita a lugares estreitos.

III Parte
Com o progresso a mulher não demora
A conquistar novos rumos, novos modos,
Derrubou a esdrúxula proibição do voto
E chegou à incrível sensação de trabalhar fora.

O espaço feminino foi aumentando,
Sua força demonstra sua saga,
Com o homem disputa uma vaga,
Mas seu coração prossegue amando.
 
Em todos os espaços sociais
Já não há quem atire pedras,
Hoje a mulher até dita regras
E condena homens nos tribunais.

Os antigos filósofos já anunciavam
Que a natureza se transforma constantemente,
Com a mulher não poderia ser diferente,
Eis uma verdade que elas proclamavam.

Seria insensato aqui enumerar
Todas as conquistas de que a mulher foi capaz,
Tudo o que ela diz ela faz,
Mas seu objetivo principal é amar.

O homem não vive nem vence sozinho,
Por trás dele há o retrato de uma mulher,
Sempre pronta para um momento qualquer,
Única criatura capaz de dar-lhe o verdadeiro carinho.

( Poema do meu livro POESIA, AMOR E VIDA, Editora Pensata, Rio de Janeiro, 2010 )

quinta-feira, 7 de março de 2013

Consolo



Responde-me:  por  que  choras?
Acaso  o  leite  derramou-se?
Que  dilúvio  se  apoderou  de  ti?
Para  sempre  te  calas  ou  me  falas  agora...

Esta  enxurrada  em  teu  olhar
Afoga-me  em  mim  o  leme  sazonal
Que  uso  para  desbravar  o  mal
Tão  presente  na  ressaca  do  teu  mar.

Sinto  no  arrepio  lúgubre  das  gaivotas
O  estuário  ferido  da  natureza  morta
Que  povoa   teu  semblante  carcomido...

É  dor  o  que  te  deixa  nesta  dantesca  fossa?
Abre-te  aos  meus  ouvidos,  eles  não  se  importam
De  acariciar  teus  vértices  e  ter-te  junto  comigo!

sábado, 2 de março de 2013

Analogia do Pensamento



O  pensador  reflete  sobre  o  que  faz  cócegas  em  sua  mente...

Raciocínio  que  exonera  as  coisas  chulas  da  vida
Para  dissecar  com  a  experiência  sensações  conclusivas.

Perante  um  extrativismo  de  observação  peculiar
A  lógica  enumera  preceitos  que  a  existência  exala
Numa  verdade  relativa  que  pressupõe  veredito  absoluto...

O  pensamento  unilateral  do  indivíduo  ganha  síndrome  de  conotação
Ao  mergulhar  na  abstração  coletiva  de  um  amplo  universo
Que  cataloga  a  mensagem  tanto  em  prosa  como  em  verso
E  permite  que  cada intelecto  seja  sujeito  de  privada  reflexão.

Os  valores  são  processados  conforme  o  nível  do  conhecimento  adquirido...
Na  hereditariedade  que  as  palavras  podem  alcançar
Destaca-se  como  fundamental  o  papel  primário  da  inteligência
Que  absorve  e  julga  a  premissa  do  incontestável  e  da  incoerência
A  fim  de  que  se  registre  o  perfil  numa  plataforma  de  além-mar!

Mormaço


Chuva fininha,
Sol escondido entre as nuvens
E eu perambulando
Pelas ruas da cidade grande...
Mormaço perturbador,
Do tipo que agita o bom senso
E deixa o corpo a pingar de suor...
Na aglomeração das ruas
O transeunte de passo incerto
A tropeçar nas labaredas
Do pensamento congestionado
Pelas angústias do dia a dia...
Negócios fomentados
Pela arte da sobrevivência
Que exige dinamismo,
Mas também precaução
Diante dos estados depressivos...
O temperamento a mercê das horas
E da atmosfera de calor intenso
Que irrita e provoca a exaustão
Do físico alquebrado
Pela indiferença
Das fisionomias anônimas
Que circulam apressadas
Esbarrando num, noutro
E soltando pornografias
Sem nexo, sem juízo
Ao invés da palavra mágica
Que mesmo pronunciada alhures,
Conforta, digere e tudo passa...
E no aconchego das massas
O tempo se transforma,
A chuva cai forte
Banhando as consciências
Que se asilam no frescor
Da água que ensopa
E que expulsa as convulsões
Que atropelam os raciocínios
Dos que querem lutar!

Círculo de Emoções


Grande iate aguarda convidados
Para um passeio além da imaginação,
É o sonho que acaricia a percepção
Nas entrelinhas onde se admira o fantástico.

Pelas águas do pensamento a embarcação flutua
Ultrapassando vagas que se afogam em labirintos,
Nas profundezas dos torvelinhos há manás distintos
Que alimentam a esperança em que ideais se acentuam.

Na viagem endofísica a consciência é coadjuvante
Do plano assimétrico que controla as variantes
Desenhadas pelos devaneios que tingem os anseios da vontade...

Do éter íntimo os anelos vagueiam insolentes pelo espaço
À cata de um claustro para não se dissolverem em pedaços
Através da força bruta que sacia o ímpeto das tempestades!