domingo, 3 de abril de 2016

AMANHÃ...

Perante o painel que desenha os sentimentos
Vejo o homem sucumbir nos pilares do mal...
Aventuras indigestas campeiam num litoral
Em que águas poluídas são vícios e tormentos.

Tudo o que é cíclico não se depura com o bem,
Pois mentes maquiavélicas traçam planos sutis
Onde a dignidade é proveta de assaltos imbecis
E a honra é enterrada em mausoléus sem vintém.

É dantesco o papel do social que se contamina
E leva consigo as inocências à base de propinas
Que fraudam consciências com sujeira política...

Legados ultrajantes são o futuro, nada se espera...
O porvir é lama e pecado, é o fim de uma esfera
Num apocalipse de cujo dogma feneceu a crítica!



DE  Ivan de Oliveira Melo    

PLATÔNICO

Assisti aos derradeiros instantes de tua agonia,
Dos teus lábios ouvi o que sempre quis escutar,
Foram palavras dum amor platônico a navegar
Por entre degraus dum sentimento de nostalgia.

Levei as mãos à face trêmula que me fez gritar
Perante teus olhos quase moribundos e sem cor,
Chorei que chorei e depositei lágrimas de amor
Sobre um corpo inerte que nos ceús iria flutuar.

Beijei tua boca já ressequida pelo palor da morte
E em teus ouvidos mudos confessei ser consorte
Dum medo que me fez durante a vida calar-me...

Em teus dourados cabelos depus carícia tão pura
E senti ser a mais infeliz dentre todas as criaturas,
Pois meu coração ribombava em sinal de alarme!


DE  Ivan de Oliveira Melo



SABER ARISCO

Eu me levanto bem cedo,
As horas é que são tardias,
Mexo e remexo meus dias,
Mas a noite é que faz medo...

Labuto num tempo incerto
Entre finas cortinas obesas,
Fatos que não me interessam
Cospem azedume no deserto.

Trabalho insano com palavras
Que soltam impune as larvas
Do saber que se mostra arredio...

À noite estou taciturno e silente,
Receoso da noite que não é gente
E que me enche de tédio e calafrio!



DE Ivan de Oliveira Melo

sábado, 2 de abril de 2016

PROSOPOPEIA

Há uma intensa personificação em tudo que vivemos...

Os arautos do cotidiano expõem cartilhas a indivíduos
Que ladram e mordem... aos que ronronam sua saliva e

Arranham sem piedade tapetes, sofás, roupas, calçados...
Hum... Deseja-se civilizar e lecionar o idioma humano
A pobres coitados que jamais chegarão a prolatar tal som...

Desperdício? Sim, porque há seres racionais disponíveis
Em orfanatos e creches que esperam ansiosos uma adoção
E se veem preteridos pelo amor que se dá aos inumanos,
Comparando-os e tratando-os como se fossem gente... fato!

Não que os bichinhos não mereçam receber devida atenção,
Contudo há efeitos comportamentais que são puro exagero...
Traveste-se o animal, dar-se a ele carinho que é de criança
E, assim, comem e bebem à mesa, dormem à mesma cama...
Será que por debaixo dos panos existe a prática da zoofilia?



DE Ivan de Oliveira Melo   

SIMPLESMENTE...

Da dia: sou forasteiro e grumete...
Da noite: sou amante inveterado...
Da dor: sou vagabundo malcriado...
Das horas: sou tempero, sou tiete...

Do tempo: sou chuva, sou arrebol...
Das estrelas: sou brilho e estribilho...
Da vida: sou construtor e ladrilho...
Do sorriso: sou calor e luz do sol...

Da tristeza: sou inimigo que chora...
Da hipocrisia: animal que devora
A tabuada que a mentira subtrai...

Da sensualidade: sou volúpia, tesão...
Da sensibilidade: apetrecho do coração
E do amor sou mártir, poesia e haicai!



DE: Ivan de Oliveira Melo

SENSAÇÕES

Talvez ser o que almejo
Não seja o que quero ser,
Talvez eu me embriague
Com certos palavreados
E em meio a tantos sons
Veja-me solteiro e arrimo...

Arrimo de toda a semântica,
Solteiro de todos os sentidos
Que os significados emprestam
Às construções apócrifas da vida,
Mas casado com sonhos prosaicos
Que edificam virtudes e fraudes...

Talvez eu seja a doce primavera
Que traz ao olfato o lume das flores,
Contudo fico ébrio diante do sol
Que me bronzeia total a inspiração
E quando da chegada do verão
O inverno já me desbotou a alma...

Talvez seja eu o vento que sopra
O uivo que me acaricia os tímpanos,
Todavia ando trôpego mediante brisas
Que carregam do outono folhas mortas
Assassinadas pela desfaçatez do tempo
Que deixa frio o estuário das horas...

Talvez seja eu o orvalho ainda úmido
Que molha perante a lua o amanhecer
Dos dias e o anoitecer das estrelas
Solteiras e cadentes que habitam os céus
E que, de repente, desposam as nuvens
Então carregadas com chuvas do amor!




DE  Ivan de Oliveira Melo

sexta-feira, 1 de abril de 2016

FANTASIAS

Despertei ante o barulho do silêncio...

Brisa sem vento tapeou minha face
E num pensamento isento de imagens

O branco pintou o preto de ilusões...
Palavras sem letras descreveram sonhos
Em que sorrisos de lágrimas eram utopia...

Num asfalto sem piso há vidas sem corações
E na sinagoga vazia vozes clamam juízos
Em que sinceridade tem o tom da hipocrisia
Que encharca o deserto de preces demoníacas...

A coragem é o medo de acertar o erro multicor
E a vigília é o sono que adormece acordado
Perante uma vida que é a morte enclausurada
Num edifício sem pedras e sem qualquer saída
Onde o agora é o depois e o ontem... alquimia!


DE  Ivan de Oliveira Melo