sexta-feira, 5 de abril de 2013

Calor e Cachaça



Abro  as  portas  de  um  vasto  sertão
Para  o  maior  espetáculo  da  terra:
Aridez,  fome  e  sede  prosperam
Num  cenário  que  virou  templo  de  oração.

Não  se  cata  alimento,  cata-se  miolo  de  areia...
Não  se  cata  vida,  cata-se  farelos  de  morte...
Enfim  tudo  se  cata,  até  mesmo  pagode,
Mas  os  instrumentos  estão  ressequidos,  cheios  de  teias...

O  calor  é  tão  intenso,  o  tempo  tão  quente
Que  a  chuva  tem  medo  de  se  molhar
E  pegar  virose  dentre  a  acidez  de  um  mar
Que  é  tão  somente  o  sonho  de  ver  tudo  diferente...

Os  santos  estão  em  greve,  não  atendem  ninguém...
Bebem  uns  aperitivos,  depois  se  perguntam:  eu  sou  quem?

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Desembarque



Saco  da  noite  a  brisa  infecciosa  da  solidão
E  trunco  o  destino  para  não  viajar  na  saudade,
A  paixão  é  o  advento  da  excessiva  tempestade
Que  nocauteia  os  alicerces  frágeis  do  coração.

Entre  paixão  e  amor    intensa  linha  sinuosa
Que  percorre  os  mangues  onde  se  deitam  sentimentos,
Nostalgia  é  o  tempero  que  assedia  os  momentos
Em  que  os  néctares  tornam  a  afeição  venturosa.

Na  inspiração  o  sublime  se  compraz  com  o  mel
Que  o  amor  derrama  em  gotículas  vindas  do  céu
E  que  o  espírito  humano  absorve  grande  quantidade...

Em  sedução  estelar  o  pensamento  desvenda  um  mar
Em  cujas  águas  se  pode  refletir  e  deveras  sonhar
Com  um  porto  seguro  onde  desembarque  a  felicidade!


terça-feira, 2 de abril de 2013

Maria, a doida



Panorama  de  uma  pequena  cidade  do  interior...

Sociedade  fechada,  muitas  coisas  eram  ainda  tabus
E  foi  para  esse  lugar  que  um  casal  programou  suas  núpcias...

Reservaram  pequeno  cômodo  na  única  pousada
Com  dia  e  hora  marcados  para  a  triunfal  chegada
O  que  deixou  Maria  ansiosa  com  a  novidade...

Maria!  ah,  era  filha  da  proprietária  do  “quase  hotel”
Que  gravou  em  detalhes  na  memória  sobre  o  grande  dia...
Maria  era  conhecida  como “louca”  e  tinha  suas  fantasias,
Finalmente  iria  descobrir  o  que  danado  era  lua  de  mel...

Sem  receio,  no  dia  consagrado,  escondeu-se  debaixo  da  cama...
Percebeu  quando  os  noivos  chegaram  e  se  atiraram  sobre  o  leito,
Mas  o  rapaz,  inexperiente,   suava  e  não  acertava,  todo  sem  jeito...
Foi  nesse  ínterim  que  a  moça  disse:  “bota  na  doida,  ajeita  com  a  mão” ...
E  Maria,  desesperada,  saiu  debaixo  da  cama  gritando:  “Em  mim  mesmo,  não!”

Traição



Estaquei...  não  podia  crer  no  que  via...
Anjo  sublime  agia  como  um  demônio
Deixando-me  turva  a  visão  diante  dos  hormônios
Que  manchavam  o  sagrado  leito  de  minhas  fantasias...

Onde  foi  que  eu  errei?  gritava  aturdido
Perante  as  nudezes  que  afogavam  minha  honra
Num  vergonhoso  lamaçal  de  pérfida  insônia
Cujas  nódoas  tornar-se-iam  slogan  do  amor  apodrecido.

Chorar?  Não!  para  que  serviria  meu  pranto?
Para  emoldurar  ainda  mais  funesto  desencanto?
Em  atitude  oposta  sorri  e  abandonei  cena  tão  degradante...

Tranquei-me  em  mim...  entravei  todos  os  devaneios
No  claustro  febril  onde  armazeno  meus  anseios
E  adormeci  para  sempre  na  solidão  apócrifa  dos  amantes...

Desenlace



Não  bata  portas  à  minha  cara,
Isso  não  é  silêncio,  é  agressão,
Palavras  ressentidas  têm  mais  educação,
Tudo  o  que  quero  é  apanhar  as  malas.

O  tempo  jogou  larvas  e  cinzas  entre  nós,
Caíram  do  céu  as  estrelas  que  contamos,
Caducou-se  um  romantismo  de  tantos  anos
E  o  antes  e  o  agora?  Tudo  virou  após...

O  “até  que  a  morte  nos  separe”  é  apenas  vintém
Que    não  se  gasta  porque  não  contém
A  essência  afrodisíaca  que  faz  germinar  uma  flor...

Entrei  e  saí  de  sua  vida  sem  consumar  planos,
Eis  o  extrato  que  contabiliza  os  desenganos
Que  foram  vítimas,  talvez,  da  falta  de  amor!