terça-feira, 15 de setembro de 2020

CONTEXTO IDEOLÓGICO






O fruto amadurece e desaba no solo...

Assim são as ideias: raciocínio e consciência se entrelaçam,
Fecundam-se no sabor da criação, tomam formas e expiram-se,

Dando à mente a inspiração para o exercício do executar
Os ingredientes edificados na placenta do íntimo pessoal
Que traz à tona da realidade uma construção de finos alicerces...

Nos mais das vezes, a ideologia planejada é puro devaneio
E cabe ao senso produtor banir os ramos de fantasia
Que devem ser sepultados nas depressões do solo intrínseco
A fim de que a consumação dos efeitos não seja utopia.

Na interação sonho-realidade, a verdade deve ser altruísta
E à concepção do impossível não se deve dar manifestações...
A vida exige atributos palpáveis que se englobem no universo social,
Pois as recíprocas precisam de tangibilidade e de participação coletiva...
O existir não é impessoal, ideais unificados sedimentam o progresso!



DE Ivan de Oliveira Melo

domingo, 13 de setembro de 2020

FOGACHO






Eis que enveredo pelos campos da sinestesia
E saboreio dos sentidos finíssimo esplendor,
Percebo a nostalgia dum sentimento de amor
Que me envolve solenemente em grande orgia.

Abstraio das sensações um calafrio alucinante
E me deixo seduzir repentinamente por volúpias
De fome e de desejos… da sede que traz tertúlias
Perante a excelsa vontade de ter da vida o bastante.

Sonego a mim o direito de haver horas indeléveis
E me dou a mim os segredos que são imutáveis
A fim de que à vida possa eu consumir as labaredas…

E num fogaréu de tesão deixo-me esculpir de paixão,
Torturando-me as vísceras inexpugnáveis do coração
Que me solfejam em notas breves que me enredam!



DE Ivan de Oliveira Melo

terça-feira, 8 de setembro de 2020

DESTINO





Eu dentro da noite, a noite dentro de mim...
Eu dentro de um sonho, um sonho utópico
Que navega em meu íntimo horas sem fim
E me faz de conexão com o mundo gótico.

Eu dentro da madrugada, única madrugada
Que faz do silêncio, minhas horas amargas
Sem aquela preocupação de ter tudo e nada,
Posto que, da vida, impostos são descargas.

Eu dentro da vida, a vida dentro do mundo...
Quero sobreviver intenso em cada segundo
E ser da solidão, simplesmente a saudade...

Eu dentro do dia, o dia está dentro de mim...
É que não sei existir tão abandonado assim
Sem me conduzir com destino à eternidade!



DE  Ivan de Oliveira Melo


segunda-feira, 7 de setembro de 2020

RETRATO DO MUNDO






Não é preciso aviltar a essência divina para ser herege...
O mundo vive em contraste e disseca os valores morais,
E esculpe as sociedades de ações vândalas que mais e mais
Tecem de indecência e hipocrisia as normas que se ferem.

Os ventos que sopram não são límpidos: são tutelas de contágio!
A heresia açambarcou a natureza, predomina a infidelidade...
Uma hecatombe de maldades é o tempero nocivo à integridade
E os indivíduos sucumbem ao adotarem a terapia deste plágio.

O caráter diluiu-se em meio à lama de parafernálias letais...
A inveja e o ódio:  regras de sobrevivência distantes dos ancestrais
Que comungaram ao longo da existência uma vida de excelências!

A sentença: os bons ideais invertidos fazem dos homens plebeus;
Amor, carinho, ternura, educação, hoje são coisas que os museus
Até escondem a fim de que as blasfêmias imperem nas consciências!


DE  Ivan de Oliveira Melo

domingo, 6 de setembro de 2020

SONATA DE AMOR


                               



                             Em meu jardim pessoal,
                                 Ó príncipe que sou!
               Quiseste tu fazer morada à minha revelia
                       E meu corpo te dei em fantasia
                   A fim que pudesses exaurir de amor.
               Dentro de mim há um quartel do silêncio
      E donde o sentimento que explode não é nada ilusão,
               Mas fatias de uma ternura em carinho que alicia
      Qualquer sofreguidão em dons homeopáticos de meiguice.
                       Sou Sol e Mar, Lua que se apaixona,
                                  Ó príncipe que sou!
                 Perante o sabor das nuvens eis-me teu
                        A sussurrar em teus ouvidos
                 As doces palavras que me fazem fecundo,
                   Nauta na arte de amar e de transformar
        Teu mundo tão róseo e sedutor em ninhos de amor
             E, assim, poder navegar qual tenaz marinheiro
                            Que busca em mim e em ti
                  O senso não compulsório da entrega,
             Porém da extrema exaustão de ser somente
                          O teu tão sonhado e desejado
                                   Príncipe que sou!





         DE  Ivan de Oliveira Melo

SEARA METAFÍSICA


  

Pelas regiões abissais da natureza

Existem inúmeros acervos de gases

Que se misturam em adventos cósmicos

E produzem nas esferas do espaço

Manifestações as mais diversas no éter carcomido

Pelas poluições herméticas da terra gangrenada.

 

As correntes eólicas são vetores de degradação

E nas plataformas das enseadas continentais

Os hemisférios se curvam diante das orgias

Patrocinadas pelas substâncias físico-químicas

Já manietadas à custa dos interesses mundanos

Que não somente desmatam, mas cerzem a atmosfera.

 

Perante o comboio das cadeias de sobrevivência,

Há elementos dilacerados pelas transformações atômicas

Que se atritam entre si e tornam a seara sideral

A floresta negra das ambições fúteis e desnutridas

Em que o produto geográfico desnuda o geológico

E traz aos parâmetros da vida terrestre doenças incuráveis.

 

As combinações maléficas se espalham no orbe

E, aos aspectos denominados vida, advém a morte...

Este é o cenário das mutilações impostas ao universo

Tão circunstancialmente formado há bilhões de anos,

Não obstante na fantasia dos silêncios execráveis

Encontram-se os segredos das constelações da metafísica

E, um dia, mesmo que não queiramos, seremos estrelas cadentes!

 

 

 

DE  Ivan de Oliveira Melo

 

sábado, 5 de setembro de 2020

 

TORMENTA

 

 

 

 

O inverno traz um frio que arrepia

E, tiritantes, fica-se a bater os dentes

Enquanto os corpos se tolhem e sentem

Pontiagudas dores de enlevo e agonia.

 

Tremem-se os novelos da angústia tardia

Onde se recolhem frêmitos que são quentes,

Os ventos assobiam e regularmente mentem

Deixando na ogiva, gelos de contraste e ousadia.

 

O tempo é o mentor desse constante desvario

Que, em ondas, atropela o éter marinho

E singra das procelas, o sacolejar das nuvens...

 

As mentes adormecem sob influxos de preguiça,

Acobertam-se de grossos tecidos que ora se enguiçam

E fomentam os ardores que da atmosfera surgem!

 

 

 

DE  Ivan de Oliveira Melo