domingo, 18 de outubro de 2020

MISTÉRIOS

 

 

 

O sonho é imutável,

A todo instante se agiganta

Para que em todos os momentos

Se possa sobreviver na Terra

Já que o destino é incógnito

E o tempo é efêmero.

 

Distâncias... Aonde se vai?

Lentamente a penumbra se faz

E a sombra caminha à revelia

Dos que buscam mitigar a sede

E saciar a fome de luz...

É doce, então, a vida

E acre um deserto sem estrelas.

 

Enquanto o dia se desfaz,

A noite é sutil aroma

E, mesmo que o fogo se apague,

Há o calor intrínseco das horas

Que cresce dentre o frio

Que faz borbulhar a sensibilidade

Que, agora, é plenamente incenso!

 

 

DE  Ivan de Oliveira Melo

OS SENTIDOS

 

 

Meu olfato é híbrido...

 

Odores nauseabundos e afáveis

Formam em mim lúdico perfume

 

Que é incongruente ao idílio,

Mas sazonal, de ritos inexoráveis

Que em mim se fixa sem queixume.

 

Meu paladar é de vigor estreme

Aliado a um tato anacrônico

Que traz do passado refinado creme

Deslizante e suave como um cântico!

 

Minha audição é sensível e burlesca,

Duma sonoplastia que busca o hilário

Tamanho o hibridismo do campanário

Que faz vibrar a aspiração picaresca...

A visão assiste ao consuetudinário!

 

 

DE  Ivan de Oliveira Melo

 

 

 

sábado, 17 de outubro de 2020

IDONEIDADE

 

 

 

 

Sou tiete e crítico

De mim mesmo.

Estou aluno e professor

Do que penso e faço.

Isto não é egoísmo,

É personalismo!

 

Exemplos externos

Não os adereço.

Plagiar atitudes

É perder a essência

Do eu incógnito

Que busca dentro si

O conhecimento.

 

A sabedoria vive em chamas

Em derredor da ignorância.

A consciência observa a vida

E, assim, grandes inventores

Trouxeram regalos

Que regem a existência.

 

A influência é pernóstica,

Pois seduz e alicia o íntimo.

Cada ser é dono de um mundo

Particular que exulta

Em promover descobertas

E se compraz em banir o mal.

 

O universo é a patente,

O planeta seu afluente.

A inconsciência é atributo abstrato

Que muitas vezes

Ilude o ser pensante...

É fundamental ser dono de si

Como o sou de mim.

 

O sonho é a trilha

Por onde se deve caminhar,

Não obstante necessário se faz

Saber interpretá-lo

Eficientemente.

Isso exige argúcia

E total controle da mente.

 

O bem é uma constante

Que atua no auge do pensamento.

A maldade apenas sobrevive

Graças ao desconhecimento

Que faz do homem

Fantoche dos preceitos alheios

E da esdrúxula atitude

De somente querer imitar.

 

Descortinar-se do que não é seu

É o prêmio maior

Que o âmago obtém.

A individualidade é o processo

Que labuta pela coletividade

E que mira, infinitamente,

A descoberta do Paraíso!

 

 

DE  Ivan de Oliveira Melo

 

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

INTRÉPIDO


 

 

 

Prudente, sensitivo, mas ordinário...

Eis um desajuste dum ser incipiente

Que tagarela idiotices em seu presente

E comemora todos os dias o aniversário.

 

Vejo-o sem rótulo e assaz inexperiente

A domesticar o seu próprio abecedário,

Pois da rotina do dia a dia é estagiário

De uma vida despercebida, infelizmente.

 

Efêmero é o tempo que tenta ensinar-lhe

Das questiúnculas que parecem o detalhe

Para quem almeja da existência, patente...

 

Porém, se houvesse silêncio em sua alma

É possível que averbasse o que acalma,

Porquanto não se pode chamá-lo de inocente!

 

 

DE  Ivan de Oliveira Melo

 

domingo, 11 de outubro de 2020

EMBALOS

 


 

 

Dentre os folguedos caipiras,

O povo animado se entretém,

Mesmo sem haver nenhum vintém

O que vale é a alegria que se respira.

 

Ritmos alucinógenos contrários à ioga

Trazem rituais espontâneos e livres,

É o ensejo da dança e seus alvitres

Como quem adora comer, deglute tapioca.

 

O gingado é a expressão que faz sorrir,

Cantar é apontar o dedo para o porvir,

Porque no remelexo se tem assaz energia...

 

E num utopismo que desbanca devaneios,

Tudo se compactua com o que vem e veio

E lembrar que do mundo nada se consumia!

 

 

DE  Ivan de Oliveira Melo

FUTUM


 

 

 

Estou assustado, confuso, tenebroso...

 

Sinto o que se apodera de mim: gangrena!

Percebo em tudo o que faço... o odor.

 

Fragrância nas palavras e, até, em meus pensamentos,

Razão pela qual os abutres mentais me cercam

E desovam sobre mim uma terapêutica carnificina.

 

Minha consciência é húmus febril e dantesco,

Tudo apodrece em meu íntimo e é inhaca...

Minhas ideias estão em derredor desse ranço

E é uma caatinga que se faz em mim sertão...

 

Estou nauseabundo, preso a uma trincheira de dejetos

Que me retêm o olfato inadimplente das rosas...

Noto-me depósito de uma urina ácida e sem cor,

Por isso uma insanidade atrevida comanda meu eu

E me leva a diagnosticar-me estrume da existência!

 

 

 

DE  Ivan de Oliveira Melo

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

DOUTRINA

 

 

É o tempo que passa

E nos arrasta com ele.

Somos leves qual pássaro

Que, dentre os assobios das brisas,

Voa sem destino pelas veredas

Sem portos, sem estações.

 

Somos sobreviventes anônimos

Das infecções virulentas e bacterianas

Que assolam um planeta já febril.

Somos vítimas e assaz testemunhas

Das patologias que desregram o social

E nos lambuza de efeitos contagiosos.

 

Felizes somos nós que vivenciamos

As arestas desconhecidas das enfermidades

E as ultrapassamos com galhardia.

Resta-nos uma reflexão íntima

A fim de que possamos entender a vida

Como suporte sublime da Criação.

 

Que os conflitos pandêmicos ilustrem

Os corações de pedra...

Que o sofrimento que gera imposição

Possa transformar o mal em bem,

A tristeza em alegria,

A ignorância em conhecimento,

As trevas em luz!

 

Por si só, a vida é um milagre...

As mãos precisam se tocarem,

Os abraços necessitam produzir amor

Numa confraternização de fé!

Que este presente de hoje

Possa ser, amanhã,

Um passado de transfigurações

Em que o orgulho se dobre

Diante da humildade,

Que o egoísmo se retrate

E possa distribuir o verdadeiro alimento

Que seduz a alma: o amor!

 

Viver é estar plenamente consciente

Da responsabilidade com o próximo...

Que a hipocrisia seja ultrajada

Pela verdade que é altruísta.

Que as bocas não precisem prolatar

O “eu te amo”, pois que seja

Esta a premissa do olhar!

Que as mortes não hajam sido em vão,

Mas sacrifícios que regeneraram

O sabor da existência!

 

 

 

DE  Ivan de Oliveira Melo