segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Tempero Natural



Ao  cair  da  tarde  o  sol  se  esconde
E  os  pássaros  cantam  buscando  o  pernoite,
O  vento  sibila  em  meus  ouvidos  sutis  açoites,
Borboletas  e  pirilampos  voam  atrás  dos  montes.

Mariposas  de  todos  os  matizes  enfeitam  a  paisagem
E  num  excepcional  colorido  sob  o  brilho  dos  vaga-lumes
A  noite  estende  no  deserto  a  calmaria  de  um  negrume
Que  traz  ao  espírito  uma  divina  e  sacrossanta  mensagem.

Na  paz  interior    o  excelso  sorriso  que  encanta
Associado  à  brisa  que  treme  de  leve  os  galhos  das plantas
Como  se  na  noite  a  natureza  estivesse  em  prece...

Não    lágrimas  no  olhar  que  exulta  a  felicidade,
  um  tempero  místico  que  contempla  a  universalidade
Do  êxtase  de  um  sono  que  despertado  novamente  adormece!


domingo, 23 de setembro de 2012

Impressões



Eu  me  imprimo  no  tempo  que  passa
E  deixo  à  posteridade  pedaços  do  meu  retrato,
Fotografia  irônica  de  tudo  quanto  eu  faço
Diante  do  sarcasmo  duma  vida  sem  taça.

Retalhos  de  mim  flutuam  no  tempo
Envelhecendo  meu  nome  diante  das  horas,
Em  minha  consciência  busco  revolver  a  história
Que  transforma  meu  perfil  num  labirinto  intenso.

Jardim  suspenso  vagueia  no  espaço
Donde  sutil  perfume  adormece  meu  cansaço
Fazendo-me  levitar  num  sonho  incorpóreo...

Nas  espessas  nuvens  que  choram  sobre  a  terra
Travestem-se  as  molduras  das  imagens  que  encerram
A  definitiva  impressão  do  meu  eu  carente  e  ilusório!

Linha Reta



Fatos  são  verdades  intravestíveis...

Se  não    argumentos  diante  de  um  fato,
Também  não    conteúdo  perante  um  devaneio...

Imagens  que  atrofiam  o  senso  crítico
Perpetuam-se  como  veleidades  diante  da  sina
Que  transporta  multidões  no  palco  da  vida.

Diante  de  um  sonho  edificam-se  variedades
Em  que  veracidades  amorfas  adormecem  ao  relento,
Tanto  debaixo  do  sol  como  sob  a  chuva    o  intento
De  representar-se  uma  existência  repleta  de  fecundidades.

No  anfiteatro  do  mundo  a  “mentira  tem  pernas  curtas”...
A  sobriedade  não  se  acalenta  perante  as  inverdades,
Transparentes  são  os  espelhos  que  refletem  as  virtudes
E  deixam  a  navegar  no  ostracismo  os  ideais  impúberes,
Porque  quando  o  coração  bate  certo  aniquila  sintomas  de  disputa!

Presentes e Ausentes



Sento  ao  teu  lado  e  escuto  tuas  queixas,
Mas    um  vazio  pleonástico  em  tudo  o  que  dizes,
Teu  repertório  alude  ao  tempo  em  que  fomos  felizes
Sem  retratar  os  momentos  de  solidão  em  que  me  deixas.

Na  carência  do  estar    comungo  saudade
E  me  ponho  em  silêncio  para  não  perder  tua  voz,
Não    distância  física  ao  redor  de  nós
E,  sim,  pensamentos  longitudinais  da  realidade.

Calo-me  porque  mergulhas  em  teu  mundo  interior
E  me  seduzo  a  mim  mesmo  por  graça  de  um  amor
Que  vagueia  num  universo  onde  rabisquei  teu  nome...

Caminho  solitário  pelas  várzeas  de  doloroso  pranto
E  os  pássaros  plagiam  a  nostalgia  do  meu  canto
Num  ritual  sinfônico  de  sentimentos  que  me  consomem!

Heresia da Palavra



A  essência  da  igreja  é  a  palavra  de  Deus...

A  mão  do  homem  bordou  ao  longo  da  História
Todos  os  ingredientes  formadores  do  que  é  memória...

A  igreja  é  apenas  mais  um  conteúdo  no  ângulo  de  visão,
A  instituição  é  sagrada,  o  ser  humano  hipócrita  e  vilão
Ao  tecer  atrocidades  que  maculam  o  eclesiástico...

Várias  denominações  dão-se  o  nome  de  igreja,
Mas  ferem  princípios  litúrgicos  quando  visam  ao pecuniário,
A  fidúcia  deveria  resumir-se  ao  dízimo  necessário
À  manutenção  da  casa  e  não  a  ocultas  pelejas...

Virou  comércio  com  extraordinária  fonte  de  renda...
Veicula-se  a  palavra  santa  com  as  mãos  ao  coração,
Mas  o  pensamento  navega  pelas  águas  turvas  da  heresia
Num  engodo  que  transforma  a  esperança  em  melancolia
E  faz  do  vestuário  sacrossanto  devaneios  de  imprensa!