sábado, 30 de março de 2013

Notas de Amor



Por  que  é  tão  drástico  meu  destino?
Desde  os  imemoriais  tempos  de  menino
Sei  que  és  a  flor  que  rego  em  meus  sonhos...

Nunca  me  deste  o  regalo  do  teu  olhar
Enquanto  eu  até  rosas  colhi  do  mar
Para  enfeitar  teu  sorriso  que  me  deixa  tonto.

Sei  que  teus  lábios  são  virgens  de  qualquer  desejo
E  os  meus  eu  os  guardei  para  te  ensinar  a  beijar,
No  silêncio  do  teu  sono  tento  ser  teu  sonhar
E  lambuzar  tua  face  com  intensos  e  apaixonados  beijos...

Desperta,  querida!  Enxerga  que  estou  ao  teu  lado
A  te  esperar  na  planilha  do  ré, mi, fá, sol, lá, si  dó...
Meu  singelo  sentimento  eu  o  chamo  de  amor-mor,
Pois  duvido  que  por  ti  haja  alguém  mais  enamorado!

Catacumbas da Solidão



Meu  corpo  dorme  sem  sonhos  na  cripta  solitária
Das  encostas  ressequidas  entre  arvoredos  mortos,
O  êxodo  contínuo  de  animais  para  outros  portos
É  a  arquitetura  dantesca  de  uma  natureza  sedentária.

Vermes  homicidas  se  nutrem  da  carne  apodrecida
E  o  sangue  coagulado  é  o  refresco  da  refeição,
Do  lado  de  fora  os  abutres  pranteiam  a  insatisfação
De  serem  preteridos  no  faustoso  banquete  da  carcomida  vida.

Dentro  da  lápide  fria  os  ossos  suam  com  o  calor
E  repugnantes  insetos  roem  o  cálcio    sem  o  odor
Que  é  a  nauseabunda  razão  da  alegria  na  festança...

No  tempo  irreversível  a  carcaça  torna-se  abandono
E  o  esqueleto  respira  na  solidão  o  passar  dos  anos
Tecendo  lágrimas  de  saudades  das  afortunadas  lembranças!

sexta-feira, 29 de março de 2013

Regras do bem viver



     
                                                                                                                              
 Capengar  pelos  caminhos  afora
É  não  ter  em  si  um  ideal  de  vida...
Tomar  café,  almoçar,  jantar...  rotinas  compridas
Que  apenas  marcam  sobrevivência  de  criaturas  inodoras...

A  existência  exige  muito  mais  que  isso...
É  necessário  ter  consciência  de  que  não  se  estar  só,
Que  todos  nascem  da  terra  e  retornam  ao 
E  que  o  milagre  de  viver  não  é  nenhum  feitiço.

As  riquezas  da  terra  não  pertencem  aos  homens,
Cada  indivíduo  é  gerente  do  espaço  a  si  confiado,
Um  dia  prestar-se-á  contas  do  que  houve  de  ser  administrado
E  no  cadastro  pessoal  soprarão  brisas  ou  terríveis  ciclones...

A  solidariedade  é  o  maior  exercício  de  amor,
Ter  pelo  próximo  preocupação  fraterna  é  dádiva  sublime
Que  a  perfeição  da  natureza  singularmente  imprime
Para  que  cada  coração  receba  com  argúcia  e  ardor...

A  busca  do  saber  é  dever  de  todo  e  qualquer  cidadão
A  fim  de  construir-se  um  mundo  cada  vez  melhor,
Leitura,  estudo,  pesquisa,  trabalho  e  suor
São  magnificências  doadas  para  que  se  possa  estender  a  mão.

Progresso  não  é  egoísmo,  é  beneplácito  do  universo,
Cabe  a  cada  inteligência  separar  o  joio  do  trigo
E  ao  mais  forte  dar  ao  mais  fraco  seguro  abrigo
Para  que  reine  justiça  em  tão  majestoso  complexo!

Ponto Final



Faz  tempo  que  a  vida
Deixou  de  ser  uma  constante,
Ou...  talvez  nunca  tenha  sido...
A  inconstância  é  o  retrato
Mais  peculiar  de  nossa  era,
Por  isso  nunca  dou
Um  ponto  final  em  minhas  elucubrações...
Por  quê?  Porque  tudo  muda
Inesperadamente  de  um  momento
Para  outro...  O  que  é  agora,
Não  é  depois,  ou  o  contrário.
Sempre  faço  uso  das  reticências,
Dos  dois  pontos,  de  uma  interrogação,
De  uma  exclamação...
Não  sei  o  que  virá  por  trás  disso.
A  vida  está  repleta  de  surpresas,
De  especulações,  de  disse-não-disse...
Tudo  é  uma  questão  de  novidades!
Resguardar-se  é  conveniência  adequada.
Ninguém  de    consciência
Deve  afirmar  de  peito  aberto:
Deste  pão  não  comerei!
Desta  água  não  beberei!
É  santa  ingenuidade...
E,  como  não  quero
Ser  pego  de  repente  pelo  inesperado...
Ponto  final  para  mim  é  uma  aberração.
Como  ficaria  depois  minha  palavra?
Poluída...  desacreditada...  no  ócio...
Ponto  final    tem  um:  a  morte!
Bem,  para  isso  não    jeito  mesmo!