segunda-feira, 27 de maio de 2013

Convite Mitológico




Preciso  fazer  uma  visita  aos  deuses
E  tentar  transformar-me  num  príncipe  do  Olimpo,
Mas  é  necessário  ter  folha  corrida  e  tudo  limpo
E  ainda  ganhar  confiança  e  simpatia  de  Zeus.

Preciso  de  pensar...  será  que  vale  a  pena
Possuir  título  honorífico  e  ser  mundano  na  forma?
Ter  sangue  azul  não  é  possível,  sangue  vermelho  engorda...
Talvez  seja  melhor  contentar-me  ser  artista  de  cinema...

Acredito  que  jamais  conseguirei  ser  alguém  no  Parnaso,
Mais  fácil  é  ter  um  emblema  de  soldado  raso
Do  que  me  investir  de  uma  nomenclatura  que  é  sonho...

Os  deuses  tomaram  ciência  e  me  enviaram  um  convite,
Recebi-o  através  dos  inúmeros  devaneios  que  tive,
Porém  o  recusei  porque  ser  príncipe  apenas  é  deveras  enfadonho!

domingo, 26 de maio de 2013

Amigos até o fim...



( SONETO  FALADO )

- Eu  sabia  que  tu  virias...
Disse  o  agonizante  ao  melhor  amigo.
- Eu  não  queria  partir  sem  ter-te  comigo
Nestes  últimos  instantes  da  minha  agonia...

O  recém-chegado,  olhos  rasos  d’água,  respondeu:
- Não  partas,  dize  a  morte  que  não  irás...
O  moribundo  apertava-lhe  a  mão  cada  vez  mais...
- Não  tenho  tal  poder...  Se  vou,  fica  o  melhor  amigo  meu...

E  as  horas  se  fechavam,  o  momento  se  aproximava.
-  Quando  eu  cerrar  os  olhos,  deves  ir  à  minha  casa,
Tudo  o  que  me  pertence  deixo  para  tua  recordação...

-  Não  é  justo!   Tens  pai,  irmãos,  primos,  mãe...
- Todos    sabem  deste  meu  desejo,  não  te  acanhes,
É  para  que  nunca  te  esqueças  de  que  moras  em  meu  coração!

Torturas



Estou  nu  diante  do  mundo,
Minhas  vestes  estão  rasgadas  e  sujas,
É  que  meu  corpo  as  enferruja
Com  o  expirar  de  cada  segundo.

Não  tenho  onde  pendurar  a  vergonha,
Sua  exposição  dilata-me  o  constrangimento
E  me  entrega  às  línguas  do  pronunciamento
Onde  as  fofocas  derramam  sua  peçonha...

Sinto-me  cretino  tentando  ocultar  a  nudez
E  quando  as  vozes  se  alevantam  de  uma    vez
O  solo  se  abre  aos  meus  pés  mostrando  o  fundo  do  poço...

Noite  é  dia  diante  do  silêncio  que  não  existe,
A  vida  me  tortura  dentro  das  horas  tristes
E  solitário  enxugo  o  suor  que  me  umedece  o  pescoço!

Ah, se eu morresse...



Ah,  se  eu  morresse  agora,
Juntar-me-ia  aos  voo  das  gaivotas
E  em  liberdade  daria  muitas  voltas
Até  esconder-me  no  palco  da  glória...

Ah,  se  eu  morresse  neste  instante,
Ver-me-ia  a  cantar  um  hino  de  desapego
E  me  permitiria  adormecer  do  sossego
  que  a  vida  negou-me  esse  calmante...

Oh,  morte!  Por que  desdenhas  de  mim?
Por  que  não  limitas  meu  fim
E  me  libertas  as  algemas  desse  cativeiro?

O  que  sou?  quem  sou?  aonde  vou?  Pouco  importa,
Arrebata-me  deste  infortúnio,  abre-me  a  porta,
Deixa-me  vaguear  sem  ser  teu  prisioneiro!

Cardápio de Emoções



O  amor  se  torna  apoteose
Quando  a  paixão  é  virótica,
Assanha-se  o  nível  de  glicose
E  o  amar  lento  é  macrobiótica.

A  sede  sensual  digere-se  devagar
Alimentando-se  de  carinho  cada  ponto,
Excitação  é  vitamina  para  desabrochar
E  deixar  o  tesão  voluptuoso  e  tonto.

Sacia-se  a  fome  consumindo  desejos
E  o  delírio  é  o  néctar  da  sobremesa,
Traz-se  o  orgasmo  aplicando-se  beijos
Onde  a  língua  dilacere  impulsos  de  defesa.

Cardápio  do  sabor  a  dois  que  não  é  quiz,
Mas  tiroteio  psíquico  que  deixa  a  emoção  feliz!



Mão Amiga




Quantas  vezes  caí  na  peregrinação  pela  existência?

Alguns  caminhos  são  estradas  assaz  pedregosas,
Noutros  têm-se  desfiles  por  veludosos  tapetes...

Em  muitas  ocasiões  levantei-me    e  segui  adiante,
Sequer  me  apareceu  uma  mão  socorrista  para  ajudar  a  erguer-me,
Tampouco  tive  o  carinho  de  ombro  amigo  para  chorar...

Houve  situações  similares  com  terríveis  quedas
E,  de  repente,  sem  que  esperasse,  surgiu  o  amparo  salvador
De  personagens  de  quem  jamais  aguardei  atitudes  de  amor...
Foi  então  que  compreendi  que  nem  todos  os corações  são  de  pedra...

A  vida  é  uma  viagem  curta,  nem  sempre    tempo  para  escolhas...
Por  ignorar-se  o  amanhã,  o  hoje  deve  ser  bem  vivido,
O  verdadeiro  amigo  é  o  que  fica  ao  seu  lado  perante  os  perigos
E  também  diante  dos  folguedos  e  horas  de  felicidade...
O  hipócrita  vive  à  espreita  para  explorar  alguma  oportunidade!

sábado, 25 de maio de 2013

Película Infernal




O  filme  a  que  assisto  é  travesso,
Imagens  distônicas  serpenteiam  o  enredo
Sepultando  alvíssaras  que  perecem  cedo
Num  colo  de  peçonha  côncavo  e  espesso.

Reportagem  traz  manchete  crítica  do  jornal
Que  homicida  a  película  de  fortes  agravos,
No  estúdio  desmistificam-se  rosas  e  cravos,
Lendários  personagens  que  combatem  o  mal.

Atenções  se  voltam  para  um  público  encarapuçado
Com  dantescas  máscaras  que  representam  o  diabo
Atordoado  por  ver-se  perdido  nas  próprias  trevas...

A  fita  deteriora-se  entre  figurantes  com  azedume
Que  rasgam  suas  vestes  perante  o  diretor  que  pune
Todo  o  elenco  com  guarda-roupa  de  preciosas  pedras!