O CAMINHONEIRO
-CONTO-
Fernando trabalhava com um velho caminhão.
Entregava fretes. Saía de casa na segunda-feira pela manhã bem cedo e apenas
retornava na sexta-feira, e tarde da noite. Sempre havia serviço e ele viajava
por longas estra-das. Certamente, era
uma faina cansativa, porém ele
já estava habituado, pois há anos se entregara a esse tipo
de trabalho. Cobrava
bem, ganhava dinheiro. Já trocara
de caminhão umas três vezes. No momento,
seu trans-porte estava “novo em
folha”, fazia poucos meses que o recebera. Estava feliz.
Fernando era casado com D. Neusa há 18 anos. Tinha 3 filhos: duas moças ( Sandra, 17 e Regina, 14) e um rapaz ( Rainer, 13). Seus filhos eram exemplos, muito educados e estudiosos.
Uma pergunta que, talvez, mereça
de pronto uma resposta: Por que Fernando só chegava tarde da noite às
sextas-feiras? Bem, o caso era
que o caminhoneiro
descobrira um posto de gasolina à beira
da estrada e, lá, um ambiente festivo, porque havia um restaurante-bar, onde
ocorriam co-mes e bebes e uma boa
música. E Fernando adorava dançar...
Numa das sextas-feiras, aconteceu
algo diferente. Fernando já ha- via
ingerido algumas cervejas e estava “louco”
para dançar. Deixou
que o olhar vasculhasse o recinto
até que desvendou uma “loiríssima”
garota que estava solitária numa mesa. A moça bebia
uísque e fumava um cigarro. Fer- namdo resolveu aproximar-se.
-
Permite-me que me sente ao seu lado? – Indagou.
Pega de surpresa, a moça
respondeu:
-
Fique à vontade. Estou mesmo precisando
de uma companhia. Obrigada!
-
Obrigado digo eu – Disse Fernando.
Logo entabularam conversa. Ambos
se deram
bem, porquanto riam demasiado. Pouco tempo
depois, lá estavam
“agarradinhos” no meio do salão, dançando efusivamente. Terminaram a
noite num pequeno
quarto de aluguel que o posto
oferecia aos que desejavam entregar-se de corpo e al- ma aos prazeres do sexo. Estava
amanhecendo quando se despediram e cada qual seguiu seu destino.
Fernando estava deslumbrado
com Iracema, a “loiríssima” garota
que conhecera. Todas as sextas-feiras se encontravam ali no mesmo
local e a vida e o tempo eram poucos
para eles. Na verdade, o caminhoneiro se dei-
xou apaixonar
por Iracema, moça que era
desconhecida do local. Todos fo-
ram
unânimes em afirmar e a concordar com
Fernando: tratava-se de
belo exemplar feminino, provavelmente nunca antes visto naquelas
redondezas.
Dois meses se passaram.
Estavam mais do que
felizes, Fernando e Iracema. Nesta sexta-feira, o caminhoneiro chegara
com um firme propósi-
to,
logo comunicou à amante sobre seus planos:
-
Não estou mais a suportar, Iracema – Confessou – Estou disposto a pedir o
divórcio à Neusa e casar-me com você... Você aceita?
-
Deus meu! – Replicou a loira, assustada – Tem certeza do que está a me di- zer?
-
Absoluta! – Confirmou Fernando.
-
Bem, seja feito como planeja – Colocou.
-
E hoje vou deixá-la em casa, quero conhecer seus pais, sua família.
-
Terá coragem para tal? – Indagou Iracema.
-
Por que não? Gosto de assumir meus compromissos...
E eram 3 horas da manhã quando
abandonaram o pequeno
quarto onde se entregavam ao amor. Foram até o
caminhão, entraram e
seguiram o destino traçado por
Iracema.
-
Mas tem certeza de que é por aqui sua
casa? – Perguntou Fernando, meio nervoso – É que não vejo qualquer
habitação nesta escuridão.
-
Claro, meu amor. Pode parar, chegamos – Disse a moça.
-
Aqui? Mas só há mato... E o cemitério do outro lado – Falou Fernando.
Não houve tempo para que Iracema
respondesse, apenas se despe- diu assim:
-
Até a próxima sexta. Tenha uma boa semana.
Apressadamente caminhou em
direção ao muro do cemitério e nem foi
necessário escalá-lo, passou por dentro dele...
Atônito, o caminhoneiro a tudo
assistiu e, antes de desmaiar, disse:
-
Santo Deus! O que é isso?
FIM
De Ivan de Oliveira Melo
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