quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

O CAMINHONEIRO

                           O CAMINHONEIRO
                                          -CONTO-




          Fernando trabalhava com um velho caminhão. Entregava fretes. Saía de casa na segunda-feira pela manhã bem cedo e apenas retornava na sexta-feira, e tarde da noite. Sempre havia serviço e ele viajava por longas  estra-das. Certamente, era uma faina  cansativa, porém  ele  já  estava  habituado, pois há anos se entregara a esse  tipo  de  trabalho.  Cobrava  bem,  ganhava dinheiro. Já trocara de caminhão umas três vezes. No momento,  seu  trans-porte estava “novo em folha”, fazia poucos  meses  que  o  recebera.  Estava feliz.
             Fernando era casado com  D. Neusa há 18 anos. Tinha 3 filhos:  duas moças ( Sandra, 17 e Regina, 14) e um  rapaz ( Rainer, 13). Seus filhos   eram exemplos, muito educados e estudiosos.
             Uma pergunta que, talvez, mereça de pronto uma  resposta:  Por que Fernando só chegava tarde da noite às sextas-feiras? Bem, o  caso  era  que o caminhoneiro  descobrira  um  posto de gasolina à  beira  da  estrada  e, lá, um ambiente festivo, porque havia um  restaurante-bar,  onde  ocorriam  co-mes e bebes e uma boa música. E Fernando adorava dançar...
             Numa das sextas-feiras, aconteceu algo diferente. Fernando já  ha- via ingerido algumas cervejas e  estava  “louco”  para  dançar.  Deixou  que  o olhar vasculhasse o recinto até que desvendou  uma  “loiríssima”  garota  que  estava solitária numa mesa. A moça bebia uísque e fumava um  cigarro.  Fer- namdo resolveu aproximar-se.
- Permite-me que me sente ao seu lado? – Indagou.
             Pega de surpresa, a moça respondeu:
- Fique à vontade. Estou mesmo  precisando de uma companhia. Obrigada!
- Obrigado digo eu – Disse Fernando.
             Logo entabularam conversa. Ambos se  deram  bem,  porquanto riam demasiado.  Pouco  tempo  depois,  lá  estavam  “agarradinhos”  no  meio    do  salão, dançando efusivamente. Terminaram a noite  num  pequeno  quarto  de aluguel que o posto oferecia aos que desejavam entregar-se de corpo e    al- ma aos prazeres do sexo. Estava amanhecendo quando se despediram e cada qual seguiu seu destino.
             Fernando estava  deslumbrado  com  Iracema,  a “loiríssima”  garota  que conhecera. Todas as sextas-feiras se encontravam ali no mesmo local   e a vida e o tempo eram poucos para eles. Na verdade, o caminhoneiro se  dei-
xou  apaixonar  por  Iracema, moça que era desconhecida do local. Todos fo-
ram unânimes em afirmar e a concordar com  Fernando:  tratava-se  de  belo exemplar feminino, provavelmente nunca antes visto naquelas redondezas.
             Dois meses se passaram. Estavam  mais do  que  felizes, Fernando e Iracema. Nesta sexta-feira, o caminhoneiro chegara com um firme  propósi-
to, logo comunicou à amante sobre seus planos:
- Não estou mais a suportar, Iracema – Confessou – Estou disposto a pedir o divórcio à Neusa e casar-me com você... Você aceita?
- Deus meu! – Replicou a loira, assustada – Tem certeza do que está a me di- zer?
- Absoluta! – Confirmou Fernando.
- Bem, seja feito como planeja – Colocou.
- E hoje vou deixá-la em casa, quero conhecer seus pais, sua família.
- Terá coragem para tal? – Indagou Iracema.
- Por que não? Gosto de assumir meus compromissos...
             E  eram 3 horas da manhã  quando  abandonaram  o  pequeno  quarto onde se entregavam ao amor. Foram até  o  caminhão,  entraram  e  seguiram  o destino traçado por Iracema.
- Mas tem certeza de que é por aqui sua  casa? – Perguntou  Fernando,  meio nervoso – É que não vejo qualquer habitação nesta escuridão.
- Claro, meu amor. Pode parar, chegamos – Disse a moça.
- Aqui? Mas só há mato... E o cemitério do outro lado – Falou Fernando.
             Não houve tempo para que Iracema respondesse, apenas se  despe- diu assim:
- Até a próxima sexta. Tenha uma boa semana.
              Apressadamente caminhou em direção ao muro do cemitério e  nem foi necessário escalá-lo, passou por dentro dele...
              Atônito, o caminhoneiro a tudo assistiu e, antes de desmaiar, disse:
- Santo Deus! O que é isso?

                                                       FIM


                                                          De  Ivan de Oliveira Melo     


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