sábado, 5 de dezembro de 2015

ESTRADA

Serei a alma nua das esquinas cinzentas
A tropeçar nos cascalhos da gruta infinita,
Terei desnuda a face para que a pele sinta
O desejo embutido que o prazer incrementa.

Serei o espírito devorador das ruas solitárias
A caminhar dentre pedregulhos pontiagudos,
Terei o corpo marcado pelos lábios carnudos
Da donzela hipotecada por mãos monetárias.

Serei o hóspede sedutor das avenidas vazias
A flutuar perante os alicerces da melancolia
Como a traduzir as sensações não malogradas...

Terei da anfitriã tertúlia seixos dos becos ocos
E serei o Dom Juan dum tear poético barroco
Para nos conflitos contraditórios ser a estrada...




DE Ivan de Oliveira Melo  

LIÇÃO

Levei um forte tapa na consciência
Com pelicas acolchoadas do pensar
Atrevido de uma imaginação estéril
Que golpeia gengivas da indecência.

Meio atordoado fiquei e grunhi alto
Tal como o animal que fere o cio
E se embrenha nas raízes cutâneas
Dum espigão que cresce no asfalto.

Caiu dentro de mim velha máscara
E uma angústia esdrúxula e picante
Segredou-me vida intensa e bárbara.

Levantei-me zonzo da prudente lição,
Mas aprendi que viver como amante
Fora do conjugal é algo sem perdão!



DE Ivan de Oliveira Melo 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

CUECAS

Cuecas protegem os bagres
Que são anzóis de crianças
E afoitos sempre se lançam
A curtirem sagrados lugares.

Em Portugal guarda castelos
Que são lindíssimos palácios
Onde vivem belos pascácios
Que passeiam pelos carmelos.

Ah... Cuecas são coisas finas,
Protetoras unissex das minas
Onde há bastante vegetação...

Às vezes são sujas nos fundos,
É odor pirata dos vagabundos
Que soltam puns de emoção!



DE  Ivan de Oliveira Melo


ESPELHO

Acho que já nasci sonhando
Tamanha a vitrine que existe
Dentro de mim e que persiste
Em ser a tela do memorando

Dos rabiscos que há na mente.
Não é delírio, sempre eu vejo
Letras cravadas em percevejo
Dizendo que sou sim, semente...

Ufa...! Intenso medo eu tenho
E isto é algo que há no cenho
Que se contrai e fica vermelho...

Penso até que sonho acordado,
Vigília que me deixa atordoado
A ver-me em mim um espelho!




DE Ivan de Oliveira Melo

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

VISÃO ARTÍSTICA

A insatisfação é um atropelo às mentes febris
Que ousam plastificar alegorias à luz da razão...
A realidade plasma-se no “ser” e no “não ser”,
E tem raízes que se infiltram no supranormal...

É fundamental isolar-se o ótico do que é ilusão,
O imaginário não deve tecer quadrantes irreais
E tomá-los como concretos perante o fantástico,
A adrenalina não solve transparências do sonho...

Verdade que o pensamento intensifica o abstrato,
Molda-o conforme as exigências de quem o forma,
Entretanto extravagâncias podem levar à loucura
A mente que se desequilibra e se envolve no vazio.

Há um deserto sem sol nas gravuras da consciência,
A atmosfera é gélida e o paladar no ar é insalubre,
As vertentes de água afogam os recônditos desejos
Que buscam produzir adereços vinculados à verdade.

Tudo é passarela por onde o artista caminha sóbrio,
Todavia uma intranquilidade pode atestar o insano
E provocar sequelas que deixem cicatrizes em brasa
A fim de que a inconsciência seja o antídoto da cura!   


DE  Ivan de Oliveira Melo


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

INSENSATEZ

Sob intensa queda d’água
O vozerio das aves é grito,
Meu silêncio é um distrito
De calmaria que enxágua

O painel incolor das turbas
Que se molham no igarapé,
Que reflete da lua o abaité
Onde estão lágrimas turvas

Do peixe que chora os lixos
Atirados na limpidez do rio
Já doente devido ao bravio
Retrato dos homens mixos

Que conspiram na rabugice
O que pranteiam na velhice!



DE  Ivan de Oliveira Melo


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

QUEM SOU?

Se a alma é eterna...

Então sou infinito,
Minha inconsciência abstrata

E meu raciocínio lógico,
Meu bater de coração biológico,
Meu caráter antropológico...

Se meu espírito é metafísico,
Minha vida é química quântica
Associada aos átomos de uma Atlântida
Que se perdeu no tempo, ficou paralítica...

Porém minha consciência é concreta:
Sinto-me, toco-me: simplesmente existo!
Minha mente torneia o pensamento crítico
E minha personalidade não é cética:
É amor cósmico, relação paradisíaca!




DE  Ivan de Oliveira Melo