POEMA-CRÔNICA
EU E O
MUNDO...
Sou um daqueles estranhos que chega e ninguém vê...
Sou esquecido, solitário,
vagabundo porque curto solidão,
Mas que estou atento diante do tudo em derredor de mim...
Sou delinquente porque vivo abandonado... não, sobrevivo!
Sou louco porque minha voz se tranca e pareço mudo...
Mas de quê adianta falar se a resposta é o silêncio?
Sou inoportuno porque apareço perante certas intimidades,
Contudo meus olhos não veem o que não quero, são cegos...
Sou chato porque não ofereço meu guarda-chuva quando
chove,
Não obstante o ônibus para quando sinalizo e me suja de
lama...
Para muitos eu nada sou, apenas estou, porque tenho carne
e osso...
Será que apenas brinco de fazer um coração bater? Sei
lá...
Enxergo o mundo, porém o mundo não me enxerga. Céticos!
Sempre fui assim, desde criança, apenas olho meu espaço
E nele tudo está vazio... Sou meio ermitão, pareço
ninguém...
Acho que sou mesmo nada... Nem meus sonhos gostam de mim,
Simplesmente não me deixam lembranças... Seara inóspita!
Verdade seja dita: tenho fome, sede, fadiga... muito,
muito sono!
Caminho sem destino, pelo menos as estradas me conhecem,
Todavia diante do meu próximo pareço invisível: não me
notam...
Sou esquisito, não sei se sou gente, certamente indivíduo
sou:
Tenho identidade, certidão de nascimento, menos conta
bancária...
Para quê? Meu trabalho é refletir, observar a natureza,
dobrar esquinas...
Sentar num banco de praça, pegar caneta e papel e escrever,
escrever...
A arena é imensa, mas meu mundo é ínfimo, isento de
valores...
Talvez eu precise falecer e nascer de novo: ter olhos
azuis, ser loiro,
Possuir uma grande cabeleira, botar brinquinhos, tatuar-me...
É isso o que percebo nas criaturas... valores iníquos, efêmeros...
Nada disso há mim... Tudo é normal, sem fantasias, nem
adereços...
Talvez por isso tenha escutado certa vez: o senhor quer dez centavos?
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