quinta-feira, 30 de novembro de 2017

TRESLOUCADAMENTE


 Eu queria ser amado tresloucadamente...

Sentir do amor as dores mais pungentes
E delirar sobre o ardor da emoção contida

Permitindo-me que o açodo seja o olfato
Dos desejos insanos tênues de uma volúpia
Que possa fazer-me gemer um tanto ébrio

E gritar diante dos orgasmos líricos da noite...
Desejaria saborear o viço duma sensualidade
Em que o tesão não fosse tão somente prazer,
Mas o produto que traz o remelexo da erosão

Tão sublimemente devorada pelas sensações!
Eu gostaria de ser amado tão tresloucadamente
Que pudesse desvairar mediante um clímax real
Deixando que, no verdor das madrugadas, a Lua
Conspirasse afim de mim e me gozasse girassóis!



DE  Ivan de Oliveira Melo    

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

CURSIVO

Lá se vai o tempo meio extenuado e carcomido
A rasgar as vísceras das horas enfermas e frias,
Sem marcha ré e em forma linear segue e atrofia
Sua passagem pelos bairros metafísicos do infinito.

Diante de uma atmosfera que guisa cada instante,
Percorre lúcido as estradas dum éter meio obtuso;
Trôpego, avança os semáforos lúdicos ora em curso
E se esconde dentre as cartas de tarô da cartomante.

Paladino sem concorrência que usa e abusa do senso
Deixa respingar sobre as estrelas o cálculo dos anos
Já esquecidos nas vitrinas dos cruzeiros contrabandos
Das galáxias que abjuram vidas e morrem ao relento.

Espaço nitrogenado pelos gases do Olimpo cósmico,
Lugar perfeito onde se tece da mocidade cada código!



DE  Ivan de Oliveira Melo

terça-feira, 28 de novembro de 2017

ALQUIMISTA


Eu tenho mil vidas numa só,
Constantemente reencarno
Sem morrer e sem ser fardo
E sem ter de tornar-me o pó.

Renasço em cada amanhecer,
Faça sol, faça chuva, eu grito,
Esbravejo e sussurro esquisito
Para que a vida me seja prazer.

Mil existências são estandarte
Dum coração que bebe a arte
E come da poesia o ser artista...

Ainda não tenho a alma caduca,
A inspiração me rói e me cutuca
Para das letras ser o alquimista!


DE  Ivan de Oliveira Melo



domingo, 26 de novembro de 2017

EXISTÊNCIA

Não desacredite de sonhar,
O devaneio não é escuro,
Apenas tem faces suarentas
E certos invólucros permeáveis.

De repente as nuvens são vultos,
Mas não se comparam à madrugada
E, à noite, quando a chuva cai,
Melhor sorrir e não lamentar,

Porque as noites não são iguais...
Com o orvalho das horas se tapeia
Vidas tristes e felizes simultaneamente.
O homem não tem asas, Porém voa

Com sua fértil imaginação ligada
À dor profunda do ser pensante,
Pois é constante esse vai e vai
Dum tempo que se enamora de si...

O que é esperança sempre renasce
Trazendo a conquista de uma vitória
Que é a vida que vence a morte
Perante as circunstâncias do inusitado...

Viva-se a coragem, renegue-se o medo.
Bem e mal são antíteses de um paradoxo
Que é viver-se a morte dentro da vida,
E matar a vida diante do pseudo respirar.



DE  Ivan de Oliveira Melo

VIDA APÓCRIFA

Atreve-se o homem a imaginar o futuro das sociedades humanas...

De acordo com o conhecimento que se tem do pretérito hediondo,
Não é salutar objetivar-se um porvir de redenção, mas de angústias...

Mar de sangue, mar de miséria, estas são fotografias da existência
Que cavalga a galope rumo ao precipício das ilusões e do infortúnio.
Humanos, esculturas da razão inócua que interagem entre alamedas

Do Indecifrável e das indumentárias que cobrem o orbe de vergonha...
Em cada atitude do hoje, verifica-se o embalsamento do passado vil,
Ressuscitado perante aspirações que enojam a essência do ser divino
Que fez da criatura sua imagem e semelhança... apenas na aparência!

Num raciocínio não débil, chega-se às evidências destas elucubrações,
Posto que em cada época se vê a reiteração do que se viveu anteontem
E na caixa de ressonância mental lições são abandonadas, reféns das
Consciências que as adulteram invés de saborearem a argumentação
De um conteúdo que poderia transformar a vida num oceano de amor!


DE  Ivan de Oliveira Melo


ILUSÃO UTÓPICA

Em cada centímetro do pensamento há uma bússola...

Mergulha-se no espaço numa ânsia atônita de sobreviver
Em meio aos átomos que circulam a imensidão metafísica.

O éter é uma região incompatível aos desejos da carne...
Há sonhos que se materializam mediante esforço da vontade,
Contudo são impulsionados por uma verve que ferve no átrio

Das aspirações mais remotas... É uma insana satisfação de vida
Que permeia ponto a ponto as veredas circunvizinhas da razão
Que é calculada milimetricamente pelo sopro vital do coração
Já adestrado ao amor e ao ódio conforme configurações mentais.

Navega-se pela relatividade dum tempo onde o prazer é regalo
De um cosmos compartilhado pelos astros que rodam o universo
Que distribui, aqui e ali, as estrelas que cintilam aos olhos humanos,
Radares que apreciam a beleza das manifestações infinitesimais...
Somos, talvez, uma utopia de nós mesmos no patamar da Criação!


DE  Ivan de Oliveira Melo   


AUTÓPSIA

Tudo é efêmero num íntimo vazio...

Imensuráveis dunas são lampejos estéreis
Dum inatingível deserto amorfo e sem cor.

Tudo o que existe: um nada insensível, irreal...
Invisível aos olhos da mais profunda imaginação,
Mas usurpador do controle emocional e psíquico.

Âmago insalubre, enfermo dos circunstanciais
Devaneios que valsam sobre uma inóspita tela
Que garatuja cada sentimento como tenaz guilhotina
E sepulta a vontade mediante o extermínio da razão.

Indescritível sensação que retrata uma alma febril,
Dementada pela inconsciência de si mesma e do mundo.
Fantoche das ilusões que aprisionam o raciocínio
E liberta a mente a fim de que o indecifrável se resuma
Numa autópsia em cujo reflexo se concretiza a loucura!


DE Ivan de Oliveira Melo