domingo, 4 de junho de 2017

NOTAS

Aquelas franjas caídas sobre os ombros
Não possuíam o fulgor da brilhantina,
Nem o brilho que o gel produz,
Nem os cachos encaracolados da razão.

Aquelas sobrancelhas meio murchas e sem cor
Eram o desvario de uma personalidade devorada
Pelos gemidos da dor quase que adormecida
Que tremia encurralada por devaneios sisudos.

Aquele corpo trespassado pelo ciúme da noite
Comia as horas tontas que o tempo não mastigava,
Mas engolia o fastio venenoso da madrugada,
Pedaço a pedaço até o orvalho cicatrizar a manhã.

Aquela vontade vazia de sentir as coisas
Era na verdade o encontro do branco com o preto
Que vicejava oco dentre as lamúrias do silêncio
Tropeçado e vestido e, ao mesmo tempo,
Desnudo da realidade!


DE  Ivan de Oliveira Melo




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