quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Confidencial


Quando  se  ama  de  forma  platônica,
Parece  ouvir-se  o  ribombar  da  bomba  atômica
Que,  em  segredo,  faz  o  coração  sangrar...
Amar  no  silêncio  de  si  mesmo  - perigoso  sigilo –
É  deixar  a  loucura  plantar  espessas  raízes
Que,  em  solo  árido,  aniquila  dias  felizes
E  condena  a  tristeza  a  sobreviver  num  Paraíso
Onde  o  sol  que  alimenta  a  vida
É  frio,  o  deserto  úmido  e  o  vento  pessimista...


Estágio Cíclico


Arrasto  teu  corpo  mediante  atrito
De  um  impulso  que  enfeitiça  meu  libido,
Força  motriz  dum  organismo  consumido
Pelo  desejo  latente  de  tornar-te  meu  distrito.

Veias  aéreas  em  estágio  de  combustão
Norteiam  minha  sensualidade  propensa  a  produzir
Combustível  erótico  que  derrama  sobre  ti
O  fogo  cíclico  acelerador  de  minha  paixão.

Câmbio  automático  em  ritmo  de  afoxé
Controla  o  vaivém  sem  acionar  marcha  ré
Até  que  o  sorriso  estampa  uma  satisfação  plena...

 Choques  elétricos  atiçam  novos  átomos  de  energia
Que  fazem  vibrar  em  volúpia  o  cio  da  agonia
Dentro  de  um  pasto  onde  se  acomoda  minha  antena!


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

TRIBUTO À JOVEM ARTISTA


(A  V.S.)

Contemplo  tua  arte  como  vitrine  do  meu  arrebol,
Em  tua  voz  mansa  e  infantil  minha  audição  é  suntuosa,
Meu  olhar  adormece  retratando  tua  canção  que  renova
Meus  idos  anos  rejuvenescidos  por  tua  melodia  de  escol.

Saboreio  meu  café  reflexivo  ENTRE  QUATRO  PAREDES
Simulando  a  fantasia  de  poder  dar-te  um  abraço,
Mas  neste  devaneio  sinto  em  minh’alma  assaz  cansaço
E  em  alegorias  tenho  um  aperto  de  mão  a  oferecer-te!

Navegar  pelas  odes  da  esperança  é  meu  destino...
Enquanto  cantas,  componho  versos  e  me  imagino  menino
A  brincar  contigo  pelas  várzeas  e  pelos  campos...

Em  meu  coração  há  uma  síndrome  de  sonho  e  taquicardia
Que  me  sepulta  na  aridez  idosa  do  solo  e  dia  após  dia
A  ilusão  de  ver-te  face  a  face  é  como  ouvir  teu  mavioso  canto!




Criança Íntima


Dentro  de  mim  há  um  mundo  colorido
Onde  crianças  várias  brincam  na  lama  do  pecado,
Dentre  elas  sou  a  mais  esperta,  nado  num  regato
Sobraçando  brinquedos  que  se  parecem  comigo!

Corpo  adulto...  alma  de  criança eu  sou,
Ainda  corro  soberbo  pelas  campinas  da  alegria
Chorando  e  sorrindo  pelas  trelas  de  cada  dia
E  em  meu  coração  rodopia  um  torvelinho  de  amor!

Onde  estão  os  palhaços  que  tagarelavam  minha  infância
E  que  me  faziam  gargalhar  em  ritos  de  abundância?
Esses  foram  corroídos  pelo  progresso  e  pelo  abandono...

Ah!  As  crianças  se  perderam  dentro  do  mundo  caduco,
Suas  tagarelices  são  lágrimas  que  sempre  enxugo,

Pois,  inocência  é  saudade  de  ver  vazio  seu  trono!

Talvez eu...


Talvez  eu  não  seja  do  meu  ar  o  oxigênio
Nem  da  atmosfera  substância  de  nitrogênio,
Mas  sou  peregrino  ambulante  do  universo
Que  ora  cai,  ora  levanta,  sem  ser  gênio...

Talvez  eu  não  seja  da  minha  estrada  o  guia
Nem  o  poema  de  cuja  leitura  tem-se  nostalgia,
Mas  um  colecionador  de  letras  em  cada  verso
Que  sonha,  sorri,  chora...  que  fantasia!

Talvez,  da  paixão,  eu  não  seja  o  fogo  que  arde,
Mas  sou  a  palavra  que  queima,  sou  uma  arte
Que  tempera  sentimentos  em  busca  do  belo...

Talvez  de  mim  mesmo  não  seja  a  própria  vida,
Mas  sou  do  meu  íntimo  mão  amiga  e  inimiga,
Causador  dos  sucessos  e  verdugo  dos  meus  flagelos!


domingo, 6 de outubro de 2013

Giz


Escrevi  minha  vida  com  giz...
É  que  ela  se  apaga  inexoravelmente
Deixando-me  a  desvendar  batentes
Que  me  levem  a  ser  feliz...

Em  degraus  escuros  dobro  joelhos
Buscando  vencer  ladrilhos  de  escadas,
Minha  face  sua  e  minha  pele  surrada
Esconde-me  as  rugas  diante  do  espelho.

Meus  olhos  vesgos  alheios  ao  tempo
Só  enxergam  dureza  no  chão  de  cimento
E  uma  paisagem  alegórica  agora  vazia...

No  grisalho  dos  meus  raros  cabelos
A  velhice  rachou  a  limpidez  do  espelho
E  jamais  vivi  a  vida  que  tanto  queria!



Âmago Vazio


Minha  alma  chora
E  meu  coração  está  sorrindo...
Fogueira  de  ilusões  no  dia  findo
A  suspirar  nos  andaimes  da  aurora...

Crepúsculo  íntimo  que  me  devora
De  incertezas  o  verde  dos  meus  campos,
Terra  roxa  sombreada  pela  luz  de  pirilampos
Em  que  o  tempo  me  mastiga  cansadas  horas.

Lágrimas  são  afluentes  de  minhas  serras
Que  escorrem  pelos  labirintos  da  espera
Sem  semearem   sementes  no  solo  seco...

Na  aridez  de  um  chão  de  rachaduras
Dilúvio  de  dores  cobrem  oásis  de  aventuras
Tapeando  sentimentos  de  ignóbeis  estercos!