quinta-feira, 11 de agosto de 2016

SONETO DE INTIMIDADE

Percebo-me, sem olvidar-me acanhado
Diante da chuva que sacia minha sede,
A fome em minhas entranhas mui fede
E no perfume do meu corpo sou talhado.

Corro sem compreender-me nesse móvel
Que mesmo longe de mim tanto me desafia,
É que sou talvez a doce açucena de alegoria
E de vez em quando nada corro, fico imóvel.

Sorrio em pontos extremos um longo choro
Que descontrai minha alma dum tom louro
E me confidencia: se corro ou fico, sou errado.

Porém confinado estou na tagarelice do mundo,
Enquanto as sílabas voam, sou sempre fecundo
E às vezes me perco do senso, erro o tablado!




DE Ivan de Oliveira Melo  

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