terça-feira, 29 de maio de 2018

DEMISSÃO



Demito as insensatezes que me acabrunham
Perante as horrendas manifestações
Dos meus órgãos físicos:
Braços, olhos, pernas, ouvidos, boca, coração...

Fecho a boca para afugentar a fofoca.
Cruzo os braços para não apontar
Defeitos de outrem
( Bastam os meus, tão visíveis...)

Cruzo as pernas
Para não caminhar
Pelos caminhos caudalosos da vida.
Deixo assanhados os cabelos
Visto que não sou Don Juan...

Tapo a audição,
Assim não escutarei
Os absurdos do cotidiano
Que envolvem
Política, futebol, religião
E mais centos e centos
De assuntos sem nexo...

Cerro os olhos para não ser conivente
Com a poluição que degrada o planeta
E nem enxergar coisas macabras...

Meus dentes já não mastigam,
Eles têm o pavor
Da contaminação
Trazida pelos alimentos industrializados
E pelo excesso de substâncias
Que aumentam as taxas... Peçonha autorizada!

Desvinculo do coração o sentimento,
Pois as emoções do orbe
Estão enfermas
E isentas de sensações salutares...

O que se vê?
Guerras, hipocrisia, covardia,
Egoísmo, orgulho exacerbado,
Ambição desenfreada... Traição!

Então, o que resta dos meus órgãos?
Vale a pena poupá-los destas decepções?
Sim, penso eu.
Único detalhe em que não traço mudanças:
A consciência. O pensamento!
Meu raciocínio individual.
Sabe, é minha única riqueza:
É intransferível, imutável, incorruptível...
Mas profundamente sonhador,
Pois dentre os meus devaneios
Sempre há quermesses de um mundo melhor
E isto se chama esperança.
Não posso deixa-la perecer...
Diante das muitas voltas que o globo dá,
Um dia voltarei a pôr em ordem
Todos os meus órgãos
Uma vez que o amor verdadeiro não morreu,
Ele está escondido das catástrofes do universo
Já que o trocaram pela ilusão,
Pela vingança, pelo ódio, pela avareza...
E este amor está dentro de todos nós,
Que assim palpitem nossos corações!


DE   Ivan de Oliveira Melo


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