quinta-feira, 21 de março de 2013

Retrato de Vida



I  PARTE

Quando  se  é  criança
O  juízo  fica  embutido,
  folguedos  fazem  sentido,
Não    tempestade,    bonança...

Comigo  não  foi  diferente,
Rompi  todos  os  limites,
Escanteei  opiniões  e  palpites,
Nuances  de  auto-suficiente...

Brincar  foi  estudo  e  passatempo
Que  doei  à  minha  vida  sem  censura,
Viajar  no  espírito  de  aventura
Foi  a  tônica  do  real  sentimento.

Venci  à  infância  sem  compromisso
E  cheguei  à  puberdade  com  escândalo,
Busquei  compreender  por  todos  os  ângulos
Uma  metamorfose  que  me  parecia  feitiço...

Fiquei  atônito  perante  o  que  via:
Minha  voz  mesclava  entre  forte  e  fraca,
Meu  corpo  nutria  pelos  e  se  destacava
Diante  de  minha  angústia  que  era  melancolia...


II  PARTE


Afinal  entendi  que  nada  era  estranho
E  fui  entrando  ressabiado  na  adolescência,
Vergonha  absoluta  soou-me  como  ciência
De  um  período  inicial  bastante  enfadonho...

Com  o  tempo  abriu-se  a  sensualidade
E  minhas  mãos  trabalhavam  frenéticas,
Fiz  da  nudez  feminina  minhas  horas  prediletas
E  às  mulheres  cultivei-as  com  fecundidade.

Estudo  e  trabalho  eram  coisas  idiotas
E  me  envolvi  com  fumo,  bebidas  e  baladas,
Não  me  guardava  para  uma    namorada
E  vivia  para  os  amigos  que  batiam  à  minha  porta.

Indiferente  à  responsabilidade  passaram-se  os  anos
Até  que  o  irreverente  adolescente  tornou-se  adulto,
Perdi  meus  pais,  fiquei    e  deveras  inculto,
Por  isso  intensos  dissabores  trouxeram-se  desenganos...

A  consciência  agora  mostrava-me  a  vida,
Então  chorei  por  desconhecê-la  de  tudo...
Incompetente,  solitário  e  ainda  de  luto
Tive  de  vencer  as  intempéries  de  forma  destemida.


III  PARTE


Dediquei-me  a  estudar  e  angariar  conhecimento,
Amizades  pretéritas  esqueci-as  sem  rancor,
Era  preciso  lutar  e  me  debruçar  sobre  o  amor,
Novidade  que  causou  a  mim  imenso  deslumbramento.

Vivenciando  solidariedade  aprendi  a  ter  esperança,
Preceitos  religiosos  mostraram-me  que    prazer
Em  servir  à   que  transforma  radicalmente  o  ser
E  deleta  do  seu  íntimo  as  mais  frívolas  lembranças.

Um  novo  homem  edifiquei  em  mim
Consorciado  a  uma  grande  e  indescritível  paixão,
É  a  música  um  talento  que  ilumina  o  coração
E  faz  vaguear  o  espírito  pelo  espaço  sem  fim...

As  estrelas  inspiraram-me  a  tecer  letras
E  a  modificar  certos  conceitos  que  havia  da  existência,
No  manuseio  das  notas  compus  melodias  com  eloqüência
E  arrisquei-me  em  público  a  conquistar  novas  veredas.

Imensurável  metamorfose  revelou  ao  anfiteatro  do  mundo
Renovado  pecador  que  do  tudo  experimentou  e  fez,
Que  ali  perambulava  pelo  tapete  do  amor  cortês
Olvidando  por  completo  das  barbáries  do  universo  imundo...


EPÍLOGO


Incrível  quando  se  tem  noção  do  que  é  o  viver,
Sobreviver  apenas  é  algo  inoperante  e  sem  brilho...
A  razão  da  vida  é  o  caminhar  sobre  os  trilhos
Que  o  amor  deixa  à  disposição  em  cada  amanhecer.

Assim  retirei  dos  meus  sonhos  a  minha  cinderela
E  a  trouxe  à  realidade  e  logo  a  desposei...
Em  nosso  lar  ela  é  minha  rainha,  eu  sou  seu  rei
Numa  fotografia  em  que  o  matrimônio  é  divina  passarela.

Relação  bendita  que  nos  presenteou  filhos
E  onde  a  música  é  o  alimento  da  alma,
Educação  fundamentada  em  ritmo  de  valsa
Tocada  por  instrumentos  que  selam  nossos  destinos!

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