Ivan Melo, poeta.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Sessão de Cultura Infantil

  • Sessão de cultura infantil
    Conto
    Ivan Melo 

    E lá estava eu novamente entre a garotada. Aposentado, sem maiores obrigações, eu dormia durante o dia e, à noite, ia para a praça do bairro, local em que me encontrava com os amigos para jogar conversa fora e jogar dominó. Isso todos os dias da semana, menos aos sábados. Nesse dia, eu pertencia às crianças que se sentavam ao redor de mim a fim de escutarem minhas histórias.
    - Sobre o que vai nos contar hoje, vô Germano? Perguntou João Paulo, um menino muito sabido. Estava com seus 11 anos, aproximadamente. 
    - Ah... disse eu, vocês já esqueceram do assunto de nossa conversa de hoje? Indaguei.
    Silêncio. Ninguém falou nada.
    - Como são distraídos! Reclamei. Sábado passado eu deixei bem claro a respeito do que dialogaríamos neste encontro de agora. Vou dar mais uma chance. Estou esperando...
    - Ah, vô Germano, o senhor falou tão rápido que não escutamos bem. Afirmou Matheus, 10 anos.
    - Nada disso, rebateu Carol, lembrei. O senhor prometeu-nos revelar de que maneira conheceu Vó Zulene, sua esposa. Num foi isso?
    - Muito bem, Carol, isso mesmo. Você tem uma boa memória e prestou atenção no momento em que expliquei qual seria o tema de hoje. Só que ainda falta um detalhe... qual é? recorda-se? 
    - Não vô, do detalhe não consigo lembrar.
    - Lembrei! Gritou Ana Lúcia, 8 anos, a menina mais nova daquele grupo.
    - Sim? E então? questionei.
    - O senhor contou para nós que a história de hoje seria em forma de versos... como é mesmo o nome desse tipo de poesia? Ih, esqueci...
    - Soneto, arriscou Arthur.
    - Não, disse eu.
    - Fábula! tentou acertar Marta. 
    - Não, disse eu.
    - Crônica! gritou Alexandre.
    - Não, disse eu.
    - Oh... parece que foi um nome assim semelhante à centopéia... 
    Aí ninguém se agüentou. Todos caíram na risada, inclusive eu.
    - Deixa de ser burro, Henrique, falou Geraldo. Centopeia é um bicho. Com esta terminação “peia”, lembrei. É epopeia... acertei vô?
    - Ótimo Geraldo, acertou. respondi. Mas não é exatamente uma epopeia, é como se fosse. Na verdade, epopeia é um texto escrito em versos em que o autor narra as glórias e as conquistas de um povo, de uma nação. Exemplos: Os Lusíadas, do português Luíz Vaz de Camões; A Ilíada e a Odisseia, do grego Homero, etc. Eu afirmei na hora que seria epopeia porque tamanho foi o empenho que coloquei para conquistar minha Zulene... Ah, como foi difícil!
    - Por que? inquiriu-me Zezinho, menino de 12 anos. Ela achava o senhor feio?
    Outra vez todos riram... também eu.
    - Não, Zezinho. Foi devido ao pai dela ser um homem bravo, rude, porém lutei e consegui. Foi uma grande vitória para o meu ego. Foi paixão à primeira vista... mas deixem eu começar e vai ser de forma sintética, pois são muitos episódios...
    - O que é episódio? Quis saber Caetana, não sei o que é isso.
    - Eu explico. Episódios são fatos, acontecimentos, entendeu?
    - Ah, agora entendi. Obrigada!
    - De nada, minha netinha. Disponha! Contudo, vamos iniciar...
    - Antes quero dizer que não sou burro, viu Geraldo? Eu não disse que era centopéia, apenas disse que era um nome parecido, está ouvindo? Justificou-se Henrique. 
    - Pronto gente, parem de discutir... olhem o início da história...

    Foi com muito sacrifício
    Que um menino resolveu sonhar,
    Ele só conhecia as coisas do mar,
    E sonhar para o pai dele era desperdício.

    O pai desse menino era pescador
    E ensinava ao filho sua profissão,
    Mas o menino não tinha nada disso no coração,
    Ele sonhava acordado com lindas histórias de amor...

    Eu falava alto e todos estavam muito atentos, num silêncio absoluto.

    Certa noite o menino resolveu fugir,
    No silêncio arrumou as malas,
    Saiu sorrateiro pé ante pé pela sala,
    Mas, coitado! Não tinha para onde ir...

    Mesmo assim saiu... muita coragem!
    Ele só tinha a idade de onze anos,
    Em sua cabeça fervilhavam planos
    Que eram conteúdo de sua bagagem.

    Foi embora sozinho pelo mundo
    Perambulando de cidade em cidade,
    Enfrentou perigos, bastantes adversidades
    E até foi chamado por muitos de vagabundo...

    ( As crianças acharam uma graça nesta parte...)

    Não ligou. Seguiu firme adiante
    Até que um dia obteve um emprego,
    Tipo de trabalho que não era seu desejo,
    Porém queria vencer, então foi avante!

    A vida faz tantas e tantas voltas
    Que às vezes mudam nosso destino...
    E o trabalho terminou agradando ao menino
    Porque ali ele desvendou uma garota digna de nota.

    Seu coração começou a bater muito forte,
    Alguns anos haviam se passado
    E ele ali ficou, o coração sempre apertado
    Pedindo a Deus que lhe desse um dote,

    O pai da moça era do tipo valente,
    Bastante bravo e metia nas pessoas medo...
    Agora rapaz, o fugitivo guardava segredo
    De sua paixão por uma donzela atraente.

    Via quando ela saía bonita para as festas
    E de vez em quando trazia para casa um namorado,
    Escondido em seu quarto chorava desesperado
    E um suor frio de ciúme molhava sua testa.

    Dias depois ria às avessas de contente,
    Tomava conhecimento do namoro rompido,
    Ele pensava e pensava... preciso de um cupido
    Para enfrentar aquela situação de frente.

    Determinada noite bebeu umas carraspanas,
    Seu coração estava vazio, enamorado...
    Fora de si contou em voz alta seu recado
    Revelando o grande amor pela linda dama.

    No dia seguinte foi chamado para uma conversa
    Com o patrão que seria um dia seu sogro,
    Foi repreendido e taxado de louco
    Com palavras difíceis e bastante complexas.

    Daí a moça passou a conhecer seu sentimento
    E não é que tinha pelo jovem uma admiração!
    A partir dessa data passou a dar-lhe mais atenção,
    Porém sabia que do pai jamais teria consentimento.

    Viu-se a donzela enredada por intensa paixão
    E às escondidas passou a encontrar-se com seu amor,
    A ele entregou-se com sofreguidão e ardor
    E breve um resultado abalaria aquela união.

    A dama descobriu-se grávida e entrou em pânico,
    Esperou a chegada da noite para contar a novidade...
    Quando soube, o jovem encheu-se de vontade
    Galgando uma coragem que o tornou titânico...

    Propôs à amada uma resolução de fuga
    E obteve uma resposta deveras positiva,
    Fizeram planos para a nova vida
    Que a princípio seria profundamente dura...

    Dias depois nas caladas da noite tomaram rumo
    Deixando para trás familiares e amigos,
    Com carinho e amor montaram o abrigo
    Em que ternura e felicidade fomentaram um amor puro!

    - Ei, vô, o que é fomenta? interrogou Maurício.
    - Fomentar quer dizer estimular, apoiar, alimentar, atritar. respondi.
    - Obrigado. Agradeceu o loirinho de olhos verdes.
    - Que história maravilhosa, vô, estou emocionada. afirmou Caetana.

    E todos aplaudiram, pois sabiam que aquela jovem , minha amada, era a vó Zulene, a eleita adorada do meu coração. 

    - Bem, frisei, no próximo sábado teremos mais uma história. Por hoje, terminou.
    - Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh.... eclodiu de todas as bocas simultaneamente.
    - Pois é, agora é tarde, vocês necessitam de retornarem aos seus lares. Unidos somos, unidos estaremos aqui na próxima semana outra vez. Deus os abençoe. desejei-lhes.

    E um a um foi se retirando, mas já ansiosos pelo próximo encontro. E eu idem, porque de coração, amava àquelas crianças.

    FIM
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