O JURAMENTO - CAP. III
O JURAMENTO
 CAPÍTULO  III                                     
 
                                       III
 
           Por  ironia  do  destino,  combinaram  entrar  para  a  mesma
  ordem  religiosa.  Ele, na  ala  dos  rapazes;  ela,  do  outro  lado 
 dos muros  altos... Pouco  se viam,  só  mesmo durante  o  horário  dos
  ofícios,  às 5 da  manhã,  às  11  e  30  e  às  18  horas, 
diariamente.  Trocavam  muitos   olhares,  mas  não  era  permitido  que
  se  falassem.
           Os anos  se  passaram  rapidamente. Chegou
  o  dia  da  ordenação  de  Eduardo,  o  que  foi  uma  festa. Seus   
pais  e  familiares  compareceram,  bem  como  a  família  de Alice. 
Alice já  havia  cumprido  votos  e servia  na  mesma  ala,  só  
separada  pelos  imensos  muros  altos...  Neste  dia,  Alice  
conseguira  uma  permissão  especial  para  assistir à  ordenação.  A  
igreja  estava  lotada. Após  a  ordenação,  depois  de  muitos  anos,  
Alice   e  Eduardo  voltavam  a  dialogar.
 -  Parabéns, Dudu!  Você  é  um  homem  de  palavra.  Está  feliz?
           Eduardo  tinha  lágrimas  nos  olhos,  procurou  disfarçar,  mas  não  conseguiu...
 -  Veja  só,  está  chorando  de  emoção...Que  coisa  linda,  Dudu!
 -  Sim,  estou  feliz, muito  feliz... Disse, enganando  seu  coração. 
 Não  tendo  mais  coragem  de ali  permanecer,  pediu  licença  e  se  
retirou.  Os  convidados  já  haviam ido embora  e  Alice,  igualmente  
com  os  olhos  marejados ,  dirigiu-se  aos  seus  domínios.
       
    Eduardo  era  homem  de  poucas  palavras. Ficou, inicialmente,  a  
servir  ali   mesmo,  sendo  o   responsável  pelo  ofício  das   5  
horas  da  manhã.   Alice  o  via  todos  os  dias,  mas  ficava  
perturbada  pelo  fato  de  Eduardo  não  dirigir-lhe  o   olhar. O   
sacerdote  olhava  para  o alto,  para  os lados, para  o  chão, menos  
para  os  cobiçosos  olhos  de Alice.  Ela  estranhava,  mas  não  havia
  em  si  coragem  para  inquirir  de Eduardo  sobre  o  fato.  E  o  
tempo  passando...
           Um  ano  depois,  Eduardo  solicitou  uma  audiência  com  o  seu  superior,  no  que foi   prontamente  atendido.
 -  Irmão  Heitor,  tenho  cumprido  fielmente  minhas  obrigações  de  religioso, o   senhor é  testemunha  disso...
           Sem  entender,  o  Superior  perguntou...
 -  A que  se  refere, Irmão  Eduardo?
 -  Quando  entrei  aqui, anos  atrás,  li  no  regulamento  da  Ordem, 
 que  o  religioso  que desejasse   ter  algum  compromisso  fora  dos  
muros   da  instituição,  teria  a  permissão desde  que  o  que  viesse
  a  fazer  servisse  para  o  andamento  de  sua  casa  religiosa.
 -  Sim,  isto  é   verdade. O  irmão  pensa  em  alguma  coisa?
 -  Penso. Tenho  o  sonho   de  estudar  Direito, gostaria  de  contar 
 com  o   apoio   inconteste   de  Vossa  Paternidade  para  realizar 
esse  intento...
 -  Brilhante, meu   filho!  A  permissão  está  dada. Providenciarei  tudo para  que  o  irmão realize  seus  desejos.
           Assim ocorreu.  Eduardo  prosseguia  com  o  ofício  às  5  
da  manhã,  logo     depois encaminhava-se  para  o  refeitório,   
tomava  seu  café  matinal   e   saía  para   a  faculdade.  Isso  levou
  exatamente  5  anos.  Formara-se  em  Direito,  porém    Alice não  
sabia dessa  novidade.
           Certo  dia,  após  o  ofício  da  manhã,  Alice  procurou  Eduardo  na  sacristia,  antes  mesmo  que  ele  saísse.
 -  Dudu,  necessito  de  falar  com  você.
 -  Não  temos  nada  mais  em  comum  para  nos  falarmos,  desculpe. 
Além  do  mais,  sabe  que  é  proibido  vir  até  aqui,  como  se  
atreve?
 -  É  urgente.  Minha  madre  superiora  está  delirando,  a  qualquer  momento       morre,  precisa  da  extrema   unção.
 -  Há  outros   sacerdotes  na  Ordem,  pode  procurá-los.
 -  Não!  É  necessário  que  venha  agora! 
           Eduardo  lembrou-se  de  que  não  poderia  negar.  Saiu  em 
 companhia  de Alice da   sacristia  e  tentou  localizar  o  Superior. 
Obteve  a  ordem  para  ir até a  outra  ala,  além  dos  muros  
altos...  Deu  a  extrema  unção  à  referida  Madre  que  já  
agonizava, inconsciente.   Depois,  sentou-se,  desanimado.
 -  Que há, Eduardo?  Não  passa  bem ? -  Interrogou  Alice.
           Eduardo  levantou  o  olhar, encarou  os  lindíssimos  olhos 
 azuis de Alice. Não  estava  conseguindo  mais  suportar...  
Levantou-se  de  repente,  abriu  o  verbo...
 -  São  muitos   anos  de  agonia  em  minha  vida.  Maldito  juramento!  
           Pega  de  surpresa,  Alice  recuou.  Não  conhecia  este  lado  do  amigo.
 -  Acho  que  você  está  cansado, Eduardo, é  isto. Deveria  pedir  ao
  seu  superior  umas férias. Desde  que  aqui  entrou,  só   aqui  
atua,  não  seria  melhor  conhecer  outras  paragens?
 -  Não,   
Alice!  Minha  única  paragem  é  você!   Eu  a  amo,  Alice!  Não  
suporto      mais  esconder  meus  sentimentos. Vou  terminar  
enlouquecendo...
           E,  sem  dar  à  Alice  qualquer  chance 
 de  reação, tomou-a  nos  braços  e  a  envolveu  num  profundo  beijo.
  A  freira  não  esboçou  reação,  mas  logo  o  separou   de   si.
 - Você  enlouqueceu?  Hoje  somos  religiosos,  não  repita  mais  isso... 
           Não  obstante  Eduardo  pareceu  não  escutar  o  que  
dissera  Alice.     Novamente investiu  contra  ela,  beijando-a  sem  
parar...  Levada  inconscientemente  por  seus  desejos  mais  íntimos, 
 Alice  levou  Eduardo  até  seus  aposentos,   a  poucos  metros  dali.
 Então  aconteceu  o  que  há  muito  deveria  ter  ocorrido. Ainda  bem
  que  estavam a  sós...
 
 FIM  DO  CAPÍTULO  III
 
 
 
          
      
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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