quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A Vida Continua...

A Vida Continua...
CAPÍTULO I

Lucas Vasconcelos era um garoto extremamente inteligente. Filho de pais abastados, tinha tudo o que uma criança rica imaginava possuir. Bastava pensar e seu pensamento se transformava em realidade. Sempre fora assim, desde sua infância. Estudava em um dos melhores colégios da cidade onde se pagava um elevado preço pela educação. Não era o melhor de sua sala em relação a notas, também não estava entre os piores. Era regular, apenas. A verdade era que não se incomodava muito com os livros, deixava-os
no armário, dificilmente até os levava consigo à escola. Prestava atenção às aulas e achava que isso bastava.
Lucas era muito apegado aos animais. Adorava cães e gatos, especialmente. Não podia ver um desses doente pelas ruas que o apanhava e levava para casa. Cuidava, dando-lhe banho, alimentação e medicamentos, quando necessitava. Assim que a saúde do animalzinho estava recuperada, levava-o a uma creche de animais abandonados ou arranjava-lhe um dono. Simplesmente morria de amores por estes bichinhos.
Foi numa sexta-feira que chegou mais cedo à escola. As aulas se iniciavam às 7:30h, mas neste dia, Lucas entrou às 6:50h. Desembarcou da condução que o trazia e o levava de volta todos os dias. Algo chamou sua atenção: foi um menino maltrapilho que havia sentado à beira da calçada bem em frente ao colégio. Estava sujo, cabelos desgrenhados. Fedia... Todavia, sem entender o porquê, Lucas Vasconcelos dele se aproximou. Dirigiu-lhe a palavra: 
- Quem é você? De onde veio ? O que faz por aqui ?
O menino não parecia incomodar-se com a presença de Lucas. Prosseguiu lentamente mastigando um pedaço de pão duro e seco que havia em suas mãos. Lucas olhou-o sério e repetiu...
- Quem é você ? De onde veio ? O que faz por aqui ?
Desta vez o estranho menino levantou o olhar. Lucas pôde perceber um rosto bonito, contudo mal cuidado. O estranho sorriu e ele igualmente observou seus sentes perfeitos. Já ia novamente interrogar quando o garoto, finalmente, respondeu-lhe:
- Eu sou Marco Aurélio. De onde vim? Ah, de muito longe. Passei dias e noites andando até aqui estar. O que faço por aqui? Cumprindo meu destino. Sou só, não tenho ninguém.
Lucas Vasconcelos estava terrivelmente admirado com a postura do menino. Apesar e sujo, roupas rasgadas, fedorento, no íntimo sabia que havia algo de errado com aquela criança... bem, já nem tão criança assim...
- Qual sua idade ? - Lucas perguntou.
Outra vez o garoto levantou o olhar, sorriu e respondeu.
- Tenho 15 anos. Por quê?
Levado por um sentimento que não sabia explicar qual seria, Lucas disse-lhe:
- Quer vir comigo para minha casa? Lá você joga estas roupas fora, toma um banho, veste-se adequadamente e come... parece-me magro e está faminto. 
- Você levaria um estranho e pedinte como eu para sua casa sem nem ter ideia de quem se trata? – Interrogou Marco Aurélio. 
- Meu nome é Lucas. Não sei o porquê, porém gostei imensamente de você. Aceite meu convite... ficarei feliz se assim se houver. 
- Está bem... Não tenho mesmo para onde ir...
- Onde estão seus familiares ? Indagou Lucas, muito curiosamente.
- Todos morreram num grande incêndio. Depois conto-lhe tudo, em detalhes.
- Não se vá! Fique por aqui. No final das aulas ligo para meu pai e ele virá buscar-me. Aí, então, comento sobre você, digo-lhe que pretendo levar você comigo e que quero cuidá-lo. Percebo que você não é um menino de rua, algo muito sério deve ter ocorrido em sua vida. Meu coração não mente, nem se engana, não seria agora que cometeria um equívoco.
Marco Aurélio esperou até o final das aulas de Lucas. Lucas já havia telefonado para seu pai, Flávio Vasconcelos, que viera imediatamente ao seu encontro.
- O que houve, filho ? Por que não se foi normalmente com a condução?
Lucas observou o pai. Flávio sabia que quando assim o filho agia, era porque alguma novidade houvera acontecido, especialmente em relação aos animais.
- Pai, nada com animais irracionais. Vê aquele garoto ali? Noto que ele não é menino de rua, pai. Alguma coisa de muito séria ocorreu na vida dele, por isso está assim: sujo, rasgado, fedorento...
- E o que você quer que eu faça, Lucas?
- Ah, pai... painho... deixe-me levá-lo para nossa casa. Lá ele toma um banho, joga estas roupas fora e eu dou-lhe das minhas. Tenho certeza de que ele não é vagabundo, pai... Por favor! Por favor! 
- Lucas, você nem sabe de quem se trata... de onde veio... por que está assim...
- Painho, depois ele nos conta sua história, primeiro ele necessita de uma limpeza, de alimentar-se... por favor, painho...
- Nunca deixei de atender você, meu filho, mas este animal de hoje é racional, é um estranho... 
Lucas desesperou-se. Havia lágrimas em seus olhos.
- Jamais me enganei... Este garoto não é menino de rua... olhe bem para ele, tem feições belas, delicadas... note que não há com ele nada proibido, parece-me totalmente sem vícios... oh, painho, por favor, atenda, painho, atenda...
Flávio Vasconcelos decidiu seguir a intuição do filho. Era louco por Lucas e tudo fazia para contentá-lo.
- Ok, você venceu... chame-o e mande-o sentar no banco de trás.
- ôba! - disse Lucas alegremente. Eu sabia que você não me decepcionaria... Obrigado, painho, obrigado!
Lucas levou Marco Aurélio consigo. O estranho garoto logo percebeu tratar-se de família rica, pois, era uma verdadeira mansão aquela casa. O carro passou pelos portões e estacionou nas garagens. Lucas desceu apressadamente e pediu para que Marco Aurélio o
acompanhasse. Marco o seguiu. Lucas o levou para seu próprio quarto, uma alcova ampla, onde de tudo havia: televisão, computador, conjunto de som, um imenso guarda-roupa... Era uma suíte. Lucas trancou a porta do quarto para que Marco Aurélio se sentisse à vontade.
- Tire estas roupas sujas – pediu Lucas. - Aqui em meu quarto há banheiro, é uma suíte. Não se sinta envergonhado de mim, Sou de sua idade, o que você tem, também tenho!
Lentamente Marco Aurélio foi retirando aquelas roupas sujas. Estavam podres. Por último, retirou a cueca ( se é que se podia chamar aquilo de cueca ) e entrou no banheiro.
- Feche o “box” para não molhar o banheiro. – advertiu Lucas - vou providenciar roupagem limpa e cheirosa para você. Use de tudo! xampu, sabonete, tudo. Trarei também uma escova para você escovar seus dentes. Quero vê-lo arrumado e cheiroso. Após o banho, você coloca desodorante e perfume. Da porta Lucas observava Marco Aurélio banhar-se. Notou, com certeza, pela maneira como o menino se banhava, que há muito ele não sabia o que era água em seu corpo. Levou longos minutos se deliciando debaixo do chuveiro. Era necessário esfregar-se bastante, pois, fazia meses que realmente não tomava banho.
- Que banho gostoso, hein, Marco ? - Indagou Lucas.
- Sim - respondeu - está delicioso. Você poderia esfregar-me as costas? Não consigo limpá-las como devo, estão tão grudentas...
Lucas o atendeu. Despiu-se e entrou no “box”, não se incomodando com o fato de ali encontrar-se outro garoto a tomar banho.
Após o banho enxugaram-se e retornaram para o quarto, onde Lucas deu-lhe roupas limpas, decentes. Vestiu-se igualmente. Marc o Aurélio ainda pôs desodorante e um leve perfume. Estava outro, nem parecia o menino sujo e fedorento de antes. Desceram. Foram à copa-cozinha onde Flavio e Margarida Vasconcelos já jantavam. 
Flávio tomou um susto ao perceber o novo aspecto de Marco Aurélio.
- Quem te viu, quem te vê,,, Disse, brincando.
Margarida, mãe de Lucas, sorriu e falou:
- Sente-se aqui, Marco. Jante bem para depois contar-nos sua história...

FIM DO CAPÍTULO I

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe o seu comentário.