sábado, 26 de outubro de 2013

Desdêmona

Desdêmona
CAPÍTULO IV

A opinião de Desdêmona fora certeira. A inspiração que a envolveu trouxe-lhe a cura do irmão. Moisés houvera contraído um estágio perigoso de nefrite, mas ainda dentro de um tempo possível de cura. Alexandre não cabia em si de admiração pela filha, pois houvera salvo o filho homem tão sonhado.
- Desdêmona, como você chegou à conclusão de que era algo nos rins? - Perguntou admirado.
- Não sei, meu pai. Certamente foi Deus que soprou em meus ouvidos. É tudo o que sei. – Respondeu.
- Será que isso não é algum dom oculto que você possui? - Interrogou-lhe.
- Nada, meu pai. Com certeza não era chegada a hora de Moisés, então o Senhor em sua Glória Infinita, como disse antes, soprou em meus ouvidos, foi isso.
Desdêmona deu a resposta ao pai, porém tremia da cabeça aos pés. Nem imaginava divulgar seu segredo, nem pensar...
O tempo corria veloz. Três anos se passaram daquele incidente com Moisés. Desdêmona procurava nem lembrar que possuía em si determinados dons paranormais, não desejava jamais ser taxada de louca ou de ser considerada demoníaca. Havia dentro dela muito recato a respeito dessas coisas. Melhor seria esquecer e buscar levar a vida normalmente.
Fabian andava meio tedioso. Por mais que tentasse, não conseguia engravidar sua esposa. “Ou ela ou eu temos problemas” – asseverava. Necessitamos de ir ao médico e fazer uma bateria de exames. Meu sonho é ser pai, por quê não consigo?
Estava a pensar nisto quando Desdêmona o chamou para jantar.
- Venha, está pronto. Fiz de tudo o que gosta: cuscuz, sopa, pão torrado, papa de aveia. Um banquete para meu amado marido. – Disse feliz.
- Desdêmona, precisamos conversar. – Pediu Fabian.
- Estou aqui. Fale marido.
- Já estamos casados há um bom tempo, fazemos amor regularmente e você não engravida. O que estará ocorrendo? 
Desdêmona, pega de surpresa, não contava que Fabian dialogasse sobre isso.
- Não sei...
- Tomei uma decisão: amanhã vamos, eu e você, ao médico, faremos todos os exames necessários. Havemos de ter uma explicação. É verdade que somos felizes, todavia uma criança seria encher este lar de alegria. – Confessou.
- Também penso como você, porém se não engravidei ainda foi porque Deus não quis. Tudo só acontece no momento certo.
- Mesmo assim, iremos ao médico e faremos os exames. Pelo menos fico com a cabeça tranquila em relação a mim e a você. 
Assim foi feito. Fizeram todos os exames, contudo nada foi constatado de anormal. Dias depois estavam com os resultados nas mãos.
- Não entendo... Disse Fabian - Você normal, eu normal e você não engravida. Que coisa!
- Como já lhe disse - exclamou Desdêmona - são os desígnios de Deus. Tempo chegará, é ter paciência e esperar...
- Está bem, minha flor, continuaremos a tentar.
Bem que Desdêmona imaginava o porquê de sua não gravidez. Ela ligava isso ao pensamento de não querer ter filhos. Será que seus dons paranormais atuavam diretamente em seus desejos íntimos? Isso era algo que Desdêmona não tinha como responder...
Fabian trabalhava num supermercado. Ele era o gerente. Uma das funcionárias do estabelecimento era apaixonada por ele. Aproveitou um momento em que Fabian estava só no escritório e entrou.
- Peço licença, quero falar com você, Fabian.
- Pois não, Tércia, entre. Sente-se. Diga o que quer.
- Nada com relação a trabalho. É algo pessoal. – Disse com o olhar brilhando.
- Ajudá-la-ei no que me for possível. É adiantamento que você quer?
- Não, Fabian. Acho que já deva ter percebido: sou apaixonada por você... faz tempo!
Não, Fabian nunca percebera, porque só havia em si olhos para Desdêmona. Surpreso com a revelação, levantou-se. Suou frio.
- Não sei de quê fala, Tércia - eu sou casado e amo minha mulher, não reparo noutras o que acaba de me dizer. - Falou convicto.
- Está casado há alguns anos e sua esposa não lhe dá um filho... pensa que não percebo sua tristeza com isso? - Enfatizou Tércia.
- Quem lhe deu liberdade para comentar sobre minha vida pessoal? Não admito tal comportamento. Retire-se da minha sala, imediatamente. - Disse batendo fortemente os punhos sobre a mesa - Retire-se!
- Não seja tolo, Fabian. Eu posso dar-lhe o filho que tanto almeja - insistiu, provocante.
- Retire-se, já disse. Está despedida! Vá ao departamento pessoal acertar suas contas. Não trabalhará mais aqui. - Respondeu.
- Eu sabia que corria este risco - disse Tércia zombeteira - mas não importa, o que quero mesmo é você. Não vou desistir. Você ainda será meu!
- Nunca! – Retrucou Fabian – Nunca!
Perdeu o dia. Tal incidente no trabalho deixou-o nervoso, impaciente. Que atrevimento!
Desdêmona percebeu seu estado e perguntou-lhe o que houvera. Fabian nada escondia da mulher e tudo contou-lhe.
-Que atrevida essa moça! Fez muito bem tê-la despedido. Não haveria mais clima para que permanecesse na loja. Estou pasma com o comportamento dessa gente.
- Jamais haverá outra mulher em minha vida. Com filho ou sem filho - é você a quem amo! - Confessou-se nos braços da esposa.
Tércia não cumpriria o juramento. Viu que seria perda de tempo persegui-lo. Logo compreendeu que Fabian só havia olhos mesmo para Desdêmona.
Alexandre recebeu de Esmengarda uma notícia que o deixaria aturdido e, ao mesmo tempo, feliz.
- Amor, estou grávida novamente!

FIM DO IV CAPÍTULO

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe o seu comentário.