quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Desdêmona

UM NOVO SERIADO... ACOMPANHE E BOA LEITURA!

Desdêmona
CAPÍTULO I

O outono deixava suas marcas pelo chão. Nas passarelas da vida, as folhas adornavam ruas e avenidas e imensos tapetes davam um colorido seco à paisagem. As árvores despidas, o vento frio e atmosfera coberta de nuvens carregadas, eram a fotografia daqueles dias. Foi com o tempo assim que Esmengarda sentiu as primeiras contrações de seu primeiro filho. Suava... ia de um lugar para o outro da pequena sala mal iluminada, sentava-se na poltrona, dizia impropérios.
- Ah, Alexandre, onde você está numa hora dessas? Miserável! Deixar-me sozinha sabendo que o momento está próximo. –Lamentava-se. Alexandre era seu esposo. Àquela hora ainda estava a caminho de casa vindo do trabalho. Mais de uma hora gastava para deslocar-se de um ponto a outro haja vista que morava numa cidade e trabalhava em outra. Finalmente chegou em sua residência e encontrou Esmengarda deitada no tapete da sala, já com a bolsa estourada.
- Céus! Querida, você está bem? - perguntou atônito. - Há quanto tempo a bolsa estourou? 
- Cerca de 10 minuto. - Disse com um sorriso maroto nos lábios.
Alexandre apressou-se. Dirigiu-se ao quarto, deixou sobre o criado-mudo a pasta de trabalho, pegou a mala com o enxoval, levantou a mulher do tapete e a levou rapidamente para o hospital. Esmengarda há muito se achava em trabalho de parto e, pouco tempo depois, colocava no mundo uma linda menina. Pesada, quase 4 quilos e com boa saúde. O parto fora normal, apesar das circunstâncias.
- Parabéns, senhor Alexandre - disse a enfermeira - é pai de uma linda menina!
Ficou meio sem entender.
- Menina, enfermeira? Tem certeza? - Indagou.
- Sim, venho de lá agora mesmo.
- Como pode? Em todos os exames e nas ultrassonografias o médico foi claro ao dizer-me que seria um menino. – Afirmou sem raciocinar.
- Não está feliz? - Questionou a enfermeira. – enganos acontecem. Acho que foi isso o que houve. Sinto muito que esteja decepcionado. 
- Não! – Defendeu-se. - sou pai do mesmo jeito, só que eu estava preparado para uma coisa e chega outra... estou feliz assim mesmo. Posso ver a criança e minha esposa?
- Ainda não! Estão sendo tratadas, ambas. - disse a enfermeira - aguarde só mais um pouco, sua paciência o acalmará. 
Entretanto Alexandre não se acalmou. Ficou pra lá e pra cá e resmungando.
- A ciência está tão evoluída, os equipamentos são os mais modernos, médicos experientes e um engano desses...
O médico estava atrás de si e como ele pensara alto, certamente fora ouvido.
- É, senhor Alexandre, enganos ocorrem . - falou - realmente me enganei. Não sei o que houve, porém me enganei. Peço-lhe desculpas. Todavia a criança é linda, está bem e sua esposa, idem. Pode vê-las agora.
- Obrigado. Dr. Raul, obrigado!
Alguns dias se passaram. Esmengarda recebeu alta e estava em casa com o seu bebê. A menina ainda não tinha nome, pai e mãe discutiam a certidão de nascimento. 
- Quero que se chame Viviane, Alexandre, em homenagem à minha avó. – Falou Esmengarda.
- Não gosto de nomes postos em filhos em homenagem a parentes. Venho pensando nestes últimos dias e já tenho um nome para nossa filha. Chamar-se-á Desdêmona. –Frisou.
- Desdêmona? Que nome horroroso! Não tem um outro melhor?
- Não! - Alexandre estava decidido. – Este será o nome dela e não se discute mais.
- Por que um nome tão esquisito? Por quê? - interrogou Esmengarda. Por quê?
Alexandre não queria responder, mas retrucou impaciente.
- Porque ela nos enganou.
- Como nos enganou? - Quis saber a esposa.
- Era um menino que havia dentro de sua barriga e ela tomou o lugar dele. Desabafou.
- Não seja injusto, marido, que absurdo está dizendo! Tentou conciliar Esmengarda.
- Não discutamos! Já está resolvido e não se fala mais nisso. – Ordenou Alexandre.
E, assim, foi concretizado. A menina foi registrada com o nome de Desdêmona para a infelicidade de Esmengarda que chorava pelos cantos da casa.
A criança crescia... crescia. Tinha muita saúde e, ainda nova, demonstrara possuir muita inteligência. Estava agora com 6 anos e frequentava escola. Logo aprendeu a ler e a contar. Era a alegria de Esmengarda já que Alexandre decidira não querer mais filhos. Mas... coisas estranhas aconteciam dentro do lar e não se tinha uma explicação para os fatos. Quadros caíam das paredes, lâmpadas acendiam e apagavam sem que ninguém entendesse, as torneiras se abriam sozinhas, copos despencavam da bandeja e iam ao chão... Tudo isso começou a acontecer a partir do instante em que Desdêmona fixava
seu olhar. Em sua mente vinha um desejo de ver essas coisas ocorrerem e ,assim, aconteciam. Esmengarda e Alexandre nem imaginavam de onde partiam tais horrores. Na verdade, Desdêmona era possuidora de poderes paranormais e, inicialmente, quando os descobriu, usava-os para o seu divertimento. Aprendeu a tudo o que queria trazer-lhe às mãos sem que necessitasse sair do lugar, no entanto assim agia nos momentos em que estava a sós. Queria guardar seu segredo e bem guardado. Uma vez, na escola, fora repreendida pela professora porque não houvera feito a tarefa de casa. Resultado: levou 
seis bolos de palmatória em cada mão e não derramou uma só lágrima. Assim que a professora terminou de castigá-la, pensou: “Ela agora me paga! Os saltos dos seus sapatos vão se romper e ela levará uma baita queda.” Não deu outra. Iracema, a professora, ao afastar-se um pouco, foi ao chão sem explicação convincente. Sem mais, nem menos e teve os saltos dos sapatos partidos. Este fato serviu de chacota entre toda a criançada que explodiram de rir com o “espetáculo.”.
Os anos voavam. Desdêmona contava 16 anos. Era moça prendada e bonita. Esmengarda havia em si de orgulho da filha que, para sua mãe, era deveras obediente e carinhosa, porém em relação a Alexandre resmungava, porque percebia que o pai até aquela ida-
de, nunca devotara-lhe afetuosidade, logo, em seu íntimo, Desdêmona não gostava dele. Achava-o rude, grosseiro... Tratava muito mal a ela e sua mãe. Prometeu que um dia daria um jeito nisso e que só não o fez ainda por compaixão de Esmengarda que, apesar dos maus tratos do marido, era apaixonada por ele. Dezesseis anos após o nascimento de Desdêmona, Esmengarda estava novamente grávida.
- Marido, estou prenha! - Disse.
- O quê? - Espantou-se Alexandre. – Como foi acontecer isto?
- Acho que erramos no emprego das tabelas. Agora não tem mais jeito. – Confirmou a esposa.
Desta vez viria ao mundo Moisés... Para o contentamento de Alexandre. 

FIM DO CAPÍTULO i

O CAPÍTULO ii ESTARÁ CHEIO DE EMOÇÕES. NÃO DEIXE DE LER!

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