Os Gêmeos

Os Gêmeos
Capítulo IV

Victor Fernandes estava bastante cansado. Trabalhara a voz durante algumas horas, afinara instrumentos... Precisava chegar em casa e tomar um bom banho! Tinha também de estudar, pôr os conteúdos em dia. O que queriam aquelas meninas com tanta urgência?
- Cláudia, Laura... deixemos esta urgência para amanhã... estou um “caco” de cansado.- Propôs.
As garotas não estavam dispostas a adiar aquela conversa. Havia uma euforia fora do comum nelas e isso deixou Victor um pouco curioso.
- Nada disso, Victor - disse Laura - precisamos esclarecer uns detalhes muito importantes.
- Quê detalhes? - Perguntou Victor.
- Eu e Cláudia marcamos o maior “mico” lá no Shopping logo após o almoço...
E relatou tudo, contando todos os pormenores do que acontecera. Victor ficara perplexo, mal podia crer no que escutara.
- Que coisa! Vocês não viram assombração? Têm certeza do que disseram?
Cláudia ficou brava.
- Está nos chamando de mentirosas? Acha que inventamos tudo? - Interrogou batendo os pés.
- Não, não é isto, Cláudia. É que parece tão fantástico! Um cara chamado Leonardo, exatamente igual a mim? 
- Isso mesmo... Arrematou Laura - E, agora, de cabeça fria, chegamos à conclusão de que não era você mesmo, pois, como poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo? 
Victor não quis escutar mais nada. Sua cabeça fervia... Haveria de encontrar uma explicação... mas, como?
- Obrigado, garotas, por me darem este relato. Acredito em vocês... Sósias existem, porém tão perfeitos assim? Deixemos as coisas acontecerem. No momento só quero pensar e pensar... depois tudo se explica. Até, estou cansado, vou para casa. E saiu vagarosamente com destino ao lar. Tão distraído que estava com o pensamento que quase fora atropelado por um carro...
- Presta atenção, menino, quer morrer? - Gritou o desaforado motorista.
Victor chegou em casa e foi direto para o quarto. Dirigiu-se ao banheiro e tomou banho, pôs uma roupa limpa e foi ao encontro dos pais para o jantar.
Marta percebeu um “ar” diferente no filho. Não se conteve. Perguntou.
- Aconteceu alguma coisa, filho? Está tão reflexivo!
Victor queria juntar peças... colher informações, saber o que era aquilo. Lembrou-se dos sonhos e... agora aquela conversa de Laura e Cláudia.
- Sim, mãe, aconteceu. Laura e Cláudia foram almoçar no Shopping e lá deram de cara com um garoto exatamente igual a mim que disse chamar-se Leonardo Henrique. Isso me parece tão esquisito!
Humberto ouvira as palavras de Victor, não poderia mais permitir aquele silêncio sobre sua origem. Marta levou as mãos à boca, compreendeu o que o marido estava prestes a fazer.
- Não, Humberto, Victor está cansado, deixe para outro momento. – Pediu chorando. Humberto nem deu ouvidos. Chamou Victor.
- Venha cá, meu filho, tenho algo muito sério a contar-lhe. Que Deus nos abençoe a fim de que eu saiba relatar e você entender!
E tudo disse a ele, detalhe por detalhe, sem nada esconder ou até mesmo esquecer. Ao passo que retratava os fatos, chorava, bastante emocionado. Marta também pranteava...Victor era o que mais derramava lágrimas. Sim, agora poderia entender os instantes de depressão, os sonhos, o relato das meninas sobre o que acontecera no Shopping.
- É tudo, Victor. Eu e sua mãe apenas esperávamos a hora exata para dizer-lhe. Esta hora chegou. Não há mais nada oculto de você, apenas saiba e tenha a certeza de uma coisa: nós amamos muito você, é como se você fosse filho do nosso próprio sangue. Não vemos diferença nisso, Victor...
Victor chorava desesperadamente. Tudo escutara, mas não estava em condições de nada responder, somente disse-lhes:
- Deixem-me só. Preciso ficar só. Por favor!
E se fechou em seu quarto. Não conseguiu dormir. Tantas revelações tiraram seu sono. Tudo o que queria de agora em diante era encontrar o irmão, fazer dele seu amigo, dar-lhe um abraço e chorar junto com ele... 
Aquele episódio no Shopping deixou Leonardo Henrique irrequieto. Seu pensamen- 
to trabalhava, seu coração batia mais forte... Não compreendia o que se passava em seu íntimo. Aguardou chegar em casa. Depois que todos jantaram e estavam no alpendre, perguntou à mãe:
- Você e meu pai nada têm para me contar? Não há segredos para me serem revelados? Não acharam estranho o episódio com aquelas garotas lá no Shopping? Existe um tal de Victor e, pelo que pude entender, esse Victor é igual a mim, a ponto de elas me confundirem totalmente com ele... estranho isso, muito estranho...
- Está bem - Respondeu Suzana - É chegada a hora de você conhecer sua origem, concorda, Roberto?
- Sim. Fale você, eu não conseguiria...
Suzana soltou o verbo. Revelou a Leonardo tudo sobre ele. Como os pais morreram, sobre a adoção... Nada escondeu. E, por incrível que possa parecer, foi inesperada a reação do garoto. Os pais não esperavam por isso. Mesmo copiosamente chorando, Leonardo abraçou os pais adotivos, seu coração estava aberto. Para ele, seus pais estavam ali: foram eles que lhes deram um nome, que tudo haviam por si até aquele instante. Chegou até a compreender o incidente com Marcelo. Chegou à conclusão de que o amigo se encontrara com o irmão no Shopping e, claro, pensou dele tratar-se, qualquer um outro confundiria. Pobre Marcelo, logo saberia o que realmente houvera ocorrido. 
- Muito bem, meus pais, jogo aberto. Eu os amo, nada se modificará em meu coração em relação ao que sinto por vocês, absolutamente nada. Só peço uma coisa: ajudem-me a encontrar o tal Victor, ele é meu irmão gêmeo. Certamente precisa de mim tanto quanto eu preciso dele.
Suzana e Roberto prometeram auxiliar o filho na busca de encontrar e conhecer a outra metade.
- Sim, meu filho, - prometeu Roberto - nós iremos ajudá-lo!

FIM DO IV CAPÍTULO

NÃO DEIXE DE LER O CAPÍTULO V. EMOÇÕES À VISTA!