sábado, 19 de outubro de 2013

Os Gêmeos

Os Gêmeos
EPÍLOGO

O dia amanhecera nublado. Fortes ventos anunciavam chuva. Victor Fernandes, como dissera a Leonardo, mais uma vez não conseguira dormir. Mesmo assim, não demonstrava sinais de fadiga, mostrava-se esperto e ansioso. A noite parecera interminável...
O carro tomou a estrada. Humberto dirigia com vagar a atenção. Gotas intermitentes faziam vibrar a lataria do carro e um friozinho gostoso se fazia sentir. Após algumas
horas de viagem, chegaram finalmente a uma pequena cidade., perto da Capital. Victor não desejava que o encontro fosse na escola de Leonardo, foram diretamente para o endereço da residência. Paravam, perguntavam e, através das informações, fornecidas, chegaram à casa tão ansiosamente aguardada. Estacionaram o veículo em frente a uma casa simples, muro baixo, um pouco gasta pelo tempo e de um lindo
jardim, em que se destacavam belas flores e um aroma gostoso de respirar.
Leonardo Henrique não os esperava tão cedo, pensava que o encontro dar-se-ia na escola. Como sempre, as surpresas ocorrem.
Victor Fernandes e seus pais desceram do carro. Bateram. Bateram. Um garoto nu da cintura para cima ainda de calção, veio atendê-los. Imediatamente Victor o reconheceu.
Pensou: “Meu Deus, ele é igualzinho a mim.”
- Bom dia, Leonardo! Sou Victor... não nos convida para entrar?
Tombado pela surpresas, olhou Victor da cabeça aos pés e, sem dizer palavras, despencou desacordado. 
- Depressa, pai, mãe, ele desmaiou. - Gritava Victor aflito.
Conseguiram, apenas Deus sabe como, empurrar e abrir o portão. Humberto colocou o garoto nos braços e foi entrando em direção ao terraço. Logo apareceu Roberto Carlos, mas sem entender direito o que estava ocorrendo.
- Bom dia, Sr. ....., ele perdeu os sentidos.
Ao perceber a presença de Victor, Roberto Carlos compreendeu do que se tratava.
- Santo Deus! Os dois são um só. - disse o pai de Leonardo, incrédulo.
Humberto voltou a falar.
- Bom dia, Sr. ....
- Ah, desculpe! Roberto Carlos. Bom dia! Humberto igualmente se desculpou.
- Perdão por invadir assim sua casa tão cedo, porém é que era grande a aflição de Victor... nem dormiu esta noite. - Explicou envergonhado.
- Não se preocupe, Sr. ...
- Humberto. Prazer!
- Prazer é meu, Sr. Humberto. Leonardo também não dormiu, passou a noite inteira deitado no sofá esperando o dia amanhecer... também estava aflitíssimo.
Afinal conseguiram despertar Leonardo Henrique, ainda meio em estado de choque. Neste ínterim, Suzana aparece, já identificando a visita inesperada ao vislumbrar Victor.
- Bom dia - disse - entremos - acabei de passar um café.
- Bom dia, sou Marta, mãe de Victor.
- Perdão, senhora, nem disse meu nome. Chamo-me Suzana.
Roberto Carlos levou Leonardo Henrique para o quarto. Sem nem pedir licença, Victor
o seguiu. Depois, lembrando-se da falta de educação, desculpou-se.
- Desculpe-me, Sr. Roberto, eu deveria haver perguntado se poderia ter vindo até aqui, fui logo entrando de “bolo”. 
- Não se preocupe, Victor, fique à vontade. Leonardo hoje não irá à escola, vocês têm o tempo inteiro à disposição para conversarem e se conhecerem.
- Obrigado. – Agradeceu Victor.
Roberto Carlos os deixou a sós e dirigiu-se à sala onde se encontravam as duas mulheres e Humberto e já conversavam como se forrem velhos conhecidos. Marta estava perplexa e comentou:
- Bem, eu já os imaginava idênticos, mas não pensei que fossem cópias exatas. Difícil será distinguir um do outro quando estiverem vestindo roupas similares.
- Estou pasmo - confidenciou Roberto Carlos - são absolutamente iguais.
Aos poucos Leonardo se recobrava e observava atentamente o mano gêmeo.
- Graças a Deus, falou, consegui descobrir você. Só lamento tê-lo recebido nestes trajes... É que não o esperava tão cedo por aqui, imaginava encontrá-lo na escola.
Leonardo estava recostado na cama e Victor sentado ao seu lado, quase na beira, contemplando detalhe por detalhe de Leonardo Henrique. 
- Eu que agradeço ao Altíssimo – sentenciou Victor - estou completamente... nem sei me expressar, é que você é plenamente eu, seu tórax é uma cópia do meu. – E tirou a camisa para que Leonardo compreendesse de que estava falando. 
- Realmente... – Concordou Léo - imagino que sejamos idênticos em todas as partes.
- Certamente. – Também concordou Victor.
Em seus olhos percebia-se as lágrimas que começaram a rolar. Leonardo igualmente não se segurou e rios de lágrimas banharam sua face. Victor levantou-se. Leonardo o imitou. Já havia recobrado o equilíbrio físico e... então... caloroso abraço os envolveu, ambos desesperadamente soluçando.
Ainda estavam abraçados quando Victor comentou:
- Nunca mais haveremos de nos separarmos. Seremos dois em um só!
- Sim, sim, - respondeu Leonardo - que este encontro seja o princípio de uma harmonia eterna entre nós. 
Após o longo e carinhoso abraço, Leonardo pediu:
- Espere-me aqui. Vou tomar um banho, vestir uma roupa decente, tomar café com você e posteriormente... sairemos, há muito para ser conversado,vivenciado, curtido,
o dia é nosso!
- Sim... Repetiu Victor - o dia é nosso!
Victor o esperou e logo estavam sentados à mesa para a refeição primeira do dia. O ambiente tornou-se festivo e acolhedor. Os dois garotos não se desgrudaram. As duas famílias conseguiram entender-se. E aquele dia ficaria marcado no calendário
de todos reunidos ali. 
Três semanas se passaram. Victor e Leonardo sempre que podiam estavam juntos. Os fins de semana eram deles. Num fim de semana Leonardo ia para casa de Victor, no outro, Victor devolvia a visita e, assim, tornaram-se os melhores amigos e companheiros inseparáveis. 
Chegara o dia do festival. O pátio do Shopping estava abarrotado de gente. Imprensa para todos os lados. As apresentações foram sucessos absolutos. Todos foram aplaudidos de pé. Interessante foi o resultado do concurso: Leonardo Henri- 
que e Victor Fernandes, ambos, conseguiram as notas máximas dos jurados. Os organizadores desejavam o voto de minerva, porém os vencedores protestaram:
- Dividiremos o prêmio - frisou Victor - acho o mais justo.
- Concordo – conciliou Leonardo - é a solução mais prudente.
Assim foi feito: os gêmeos foram declarados os ganhadores da primeira colocação e os aplausos que soaram confirmavam que o público aceitava a decisão.
Os vencedores, os gêmeos, houveram de ser protegidos por forte esquema de segurança. Garotas e garotos gritavam seus nomes, queriam tocá-los, abraçá-los,
ganhar beijos e autógrafos, vê-los de perto, todavia autógrafos especiais foram dados para duas senhoras que conseguiram chegar até eles.
- Por favor, não nos desprezem por sermos idosas, eu principalmente. Nós os vimos quando nasceram. 
Marta e Suzana reconheceram aquelas senhoras: eram as enfermeiras Dulce ( já aposentada) e Dora, sua fiel e eterna companheira.
Quando estavam se afastando do tumulto, Leonardo Henrique ouviu alguém gritar seu nome...
- Léo, deixe-me ir com vocês. Eu o amo, Léo, quer ser meu namorado?
O coração de Leonardo disparou. Era Marina, irmã do seu amigo Marcelo, que era apaixonada por ele e, ele, em seu silêncio de timidez, também apaixonadíssimo por ela.
- Sim, quero, venha. Eu também a amo!
E ali mesmo se beijaram, mas escutaram o irônico comentário de Victor Fernandes e Márcia Magalhães. 
- Sabe, Márcia, tenho certeza de que este é o primeiro beijo de meu amado Leonardo Henrique. Viva!
- E eu tenho plena convicção de que é o primeiro beijo de Marina. – Retrucou Márcia.
Até nisso foram idênticos: em suas namoradas depositaram e receberam o primeiro beijo!

FIM

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