terça-feira, 12 de janeiro de 2016

DETETIVE POÉTICO



Não tenho janelas fechadas.
Minhas portas estão abertas.
Não sou uma enciclopédia,
Sou um livro de folhas soltas,
Algumas rasgadas, encardidas,
Outras riscadas pelo tempo,
Muitas úmidas , côncavas
E até convexas,  nítidas...
Nada há opaco ou apagado...

As letras é que estão gastas,
Pois muitos leem sem cerimônia
E me conhecem e me estudam
E me tecem variados comentários.
Há linguagem em todos os níveis,
Qualquer um pode me entender
Sem rasuras, sem ressalvas...
Mesmo os analfabetos me leem
E me compreendem a essência
Através dos traços sem palavras.

Os cegos também me conhecem,
Porque há um certo Braile em mim,
Logo não sou um desconhecido...
Sabe quem me conhece a fundo,
Porém não me compreende?
É a vida... Esta que deveria tudo
Saber de mim na ponta da língua,
Infelizmente não me interpreta,
Joga-me no glossário das dificuldades,
Num vocabulário sem sentidos
Que até Aurélio não tem como
Classificar-me... Sem resumo,
Sem qualquer comparação,
Exemplificação totalmente ausente...

Não sou extraterrestre, sou humano,
De carne e osso... Tenho sentimentos,
Sou lírico ou gótico a depender do
Momento... Choro, sorrio, zango-me,
Às vezes sou alegre, às vezes triste...
Não há preguiça em mim,
Sou dinâmico, trabalhador...
Não sou hipócrita, nem egoísta
E o orgulho sobrevive distante...
Por que a vida não me infere?
Será por que sou cristão?
Sou cristão ecumênico, pois
Entro em todas as casas de Deus
E sou bem recebido...
Tolero todas as religiosidades
Por uma questão de respeito,
Até de admiração. Não sou cético!
Como a vida me expele em seu íntimo,
É possível que a morte me entenda...
Será? Bem, eu sou que não a conheço,
Aliás, ninguém a conhece, é mistério...
Embora a vida me desfaleça perante si,
Confesso que a tenho na palma da mão...
Quiçá seja este o motivo... Eu a detenho!
E como a detenho, bom, aí está a razão:
Sou um intruso, perigoso detetive que
Está pronto para apontar-lhe defeitos,
Exigir justiça, pregar o amor, a fraternidade...
Então cheguei aonde desejava:
Sou perigoso delinquente através da arte!




De  Ivan de Oliveira Melo

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